Mudança climática pode reduzir 80% da área de cultivo da erva-mate


Estudo com participação do IFMS alerta para impacto no Brasil e outros produtores do Conesul

Mudança climática pode reduzir em 80% área propícia ao cultivo da erva-mate
Erva para tereré é vendida a granel no Mercadão Municipal de Campo Grande (Foto: Alex Machado)

Com raízes nas tradições indígenas e presença garantida nas cuias de tereré e chimarrão, a erva-mate pode ter o seu cultivo drasticamente reduzido nas próximas décadas. Estudo que envolveu pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista), do IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul) e do Instituto Federal do Sul de Minas revela que, até o fim do século, o território sul-americano apto para a produção da planta poderá cair de 12,2% para apenas 2,2%.

Um estudo realizado por pesquisadores da Unesp, IFMS e Instituto Federal do Sul de Minas aponta que a área apta para o cultivo da erva-mate na América do Sul pode reduzir de 12,2% para apenas 2,2% até o final do século devido às mudanças climáticas. O Brasil, maior produtor mundial, enfrenta riscos com o aquecimento global e a irregularidade das chuvas. A pesquisa, publicada na International Journal of Biometeorology, revela que mesmo no cenário mais otimista, a área cultivável cairá para 8,8% até 2040. A erva-mate, que requer condições climáticas específicas, pode ter sua produtividade comprometida por eventos climáticos extremos. Os produtores devem considerar investimentos em irrigação e técnicas de sombreamento para mitigar os impactos.

Divulgada pela Folha S. Paulo, a pesquisa analisou dados climáticos, como temperatura, chuvas, tipo de solo e características da planta, e projetou quatro cenários de futuro com base nas previsões do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). O pior deles indica uma queda brusca de áreas propícias, especialmente na região Sul do Brasil, que hoje concentra quase toda a produção nacional.

Atualmente, o Brasil é o maior produtor mundial de erva-mate, com quase 750 mil toneladas colhidas em 2023, conforme o IBGE. Ainda assim, a planta depende de condições climáticas muito específicas para se desenvolver, temperatura média entre 15°C e 22°C e chuvas acima de 1.200 mm por ano. O aquecimento global e a irregularidade das chuvas colocam esse ciclo em risco.

“O grande desafio do século 21 é adaptar a agricultura às mudanças climáticas. O panorama é de redução das áreas produtivas, temperaturas elevadas e menor volume de chuvas”, explica o agrometeorologista Glauco de Souza Rolim, da Unesp e um dos autores do estudo publicado na International Journal of Biometeorology.

Segundo os dados, mesmo no cenário mais otimista, a área apta para o cultivo da erva-mate cairia de 12,2% para 8,8% já até 2040. No pior caso, apenas 2,2% do território somado de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai continuará apropriado até 2100.

O levantamento mostrou ainda que a tendência de redução não é acompanhada por uma migração das áreas produtivas, como acontece com outras culturas, como o café. No caso da erva-mate, o espaço apropriado simplesmente desaparece.

O Mato Grosso do Sul não é um dos grandes polos de produção da erva, mas participa do esforço científico para entender os impactos das mudanças climáticas no setor agrícola. O Instituto Federal de Mato Grosso do Sul esteve diretamente envolvido na pesquisa, reforçando o papel da ciência regional na busca por soluções adaptativas.

A planta possui certa resistência climática por ser perene, ou seja, se desenvolve ao longo dos anos com raízes mais profundas. Porém, Rolim alerta que a produtividade pode ser comprometida mesmo quando a planta não morre. “Um único episódio de geada pode causar prejuízos. Por outro lado, temperaturas altas demais também afetam o desenvolvimento”, afirma.

Como alternativa, o estudo aponta que os produtores precisarão investir em irrigação e técnicas de sombreamento, como o adensamento do plantio. No entanto, isso encarece a produção e exige planejamento a longo prazo.

“Ainda estamos no começo do processo de transformação climática, mas os eventos extremos, longas estiagens, chuvas intensas em curto prazo, já são reflexo disso. Por isso, pesquisas como essa são fundamentais”, conclui o pesquisador.

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