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- Author, Caio Quero e Julia Braun
- Role, Da BBC News Brasil em Londres
Agosto já entrou para o folclore brasileiro como um mês de muitas reviravoltas na política nacional.
De um impeachment que mudou a trajetória do país na última década, à renúncia da política de “neutralidade oportunista” para entrada na 2ª Guerra Mundial há mais de 80 anos, os livros de História do Brasil estão repletos de momentos decisivos que aconteceram em agosto.
Leia, a seguir, sobre alguns dos mais marcantes acontecimentos registrados em agosto na política nacional.
Prisão de Jair Bolsonaro
Segundo o magistrado, o ex-presidente descumpriu ordens restritivas anteriores — algo que a sua defesa refuta.
Na ocasião, milhares de manifestantes descontentes com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022 invadiram as sedes dos Três Poderes. O ex-presidente alega inocência.
Os advogados de Bolsonaro apresentaram recurso contra a ordem de prisão domiciliar e pediram que o caso seja julgado pela Primeira Turma do STF, e não apenas por Moraes, relator da ação.
Impeachment de Dilma Rousseff
Em 31 de agosto de 2016, o plenário do Senado aprovou o impeachment de Dilma Rousseff. A ex-presidente já estava afastada do cargo desde maio do mesmo ano.
O processo de impeachment foi iniciado em dezembro de 2015 pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que aceitou uma denúncia por crime de responsabilidade.
Dilma foi acusada de desrespeitar as leis fiscais com as chamadas pedaladas fiscais e com a emissão de decretos de suplementação orçamentária sem autorização do Congresso.
O impeachment foi aprovado por 61 dos 81 senadores presentes no Senado no dia da votação. Era necessário o voto de pelo menos 54 senadores (dois terços do total) para a destituição.
A petista nega ter cometido qualquer crime e, até hoje, afirma ter sido vítima de um processo injusto e arbitrário.
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Morte de Eduardo Campos
O acidente resultou na morte do político e de outros seis tripulantes, além de ter destruído casas e empreendimentos ao redor.
No momento de sua morte, Campos era candidato à Presidência pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o terceiro nas pesquisas de intenção de voto para as eleições marcadas para outubro de 2014.
Ele era apontado como um dos políticos mais habilidoso de sua geração. Aos 49 anos, ele já havia sido ministro e governador duas vezes.
Coincidentemente, Campos morreu no mesmo dia do mês que seu avô, o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, morto em 13 de agosto de 2005
Os caras-pintadas
No dia 16 de agosto de 1992, estudantes foram às ruas pedir o impeachment de Fernando Collor de Mello – primeiro presidente do Brasil eleito diretamente pelo voto popular, após o fim do regime militar.
Envolvido num escândalo de corrupção e tentando salvar seu mandato em meio a uma grave crise econômica, Collor pedia à população que fossem de verde-amarelo às ruas em apoio ao seu governo
A mobilização foi marcada para 16 de agosto, mas o que aconteceu naquele domingo não foi o que político alagoano esperava. Ao invés disso, multidões se reuniram nas principais capitais brasileiras para protestar contra o então presidente.
“Ai, ai, ai, ai/ está chegando a hora/ A CPI está botando os podres para fora/ E o Collor já vai embora”, gritava a multidão em coro, em uma das muitas paródias usadas.
Por fim, 16 de agosto ficou marcado como um dos primeiros grandes dias de manifestações do movimento dos “caras-pintadas”, como ficariam conhecidos os grupos de jovens que protestatavam com tinta no rosto pela saída de Collor.
Algumas semanas depois, em 29 de setembro de 1992, a Câmara dos Deputados aprovou o processo de cassação de Fernando Collor de Mello.
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Morte de Juscelino Kubitschek
Outra figura importante para a política nacional que morreu em agosto foi Juscelino Kubitschek. O ex-presidente sofreu um acidente durante uma viagem de carro na Rodovia Presidente Dutra (que liga São Paulo ao Rio de Janeiro) no dia 22 de agosto de 1976.
Quem dirigia o veículo era Geraldo Ribeiro, amigos de JK. O carro invadiu a pista do outro lado e, na contramão, bateu de frente com uma carreta. Os dois morreram.
Desde o episódio, diversas teorias apontavam para uma conspiração que teria provocado a morte de JK. Ele teria sido vítima de um atentado político — e as versões apoiam-se ou na tese de sabotagem mecânica, ou de envenenamento ou tiro ao motorista.
Em 2025, a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), organismo estatal ligado ao Ministério dos Direitos Humanos, começou a avaliar a reabertura das investigações do caso.
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AVC do general Costa e Silva
Em 31 de agosto de 1969, a Agência Nacional informou o país, em cadeia de rádio e televisão, que o então presidente Arthur da Costa e Silva, após ter um acidente vascular cerebral (AVC), seria afastado de suas funções no governo.
Antes de adoecer, o general discutia a promulgação de uma nova Constituição e a derrubada do AI-5, promulgado pelo próprio presidente e considerado o mais duro dentre os 17 atos institucionais decretados pela ditadura militar após o golpe de 1964.
Sua saúde, porém, mudou os rumos da reforma. Com o afastamento de Costa e Silva do poder, o vice-presidente, Pedro Aleixo, deveria assumir a Presidência, mas foi impedido de tomar posse pelas Forças Armadas.
O Alto Comando editou o Ato Institucional nº 12, pelo qual uma Junta Militar, formada por representantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, assumiu interinamente a presidência da República.
Em outubro do mesmo ano, a Junta extingiu o mandato de Costa e Silva, que faleceu em 17 de dezembro.
Renúncia de Jânio Quadros
Estudiosos acreditam que o gesto tenha sido realizado com uma estratégia específica: ele estaria pretendendo voltar, nos braços do povo, garantido por militares, em uma espécie de autogolpe.
O tiro saiu pela culatra e o Brasil, que já passava por diversas crises, acabou mergulhando em uma espiral de instabilidades — e aquele ato de 25 de agosto de 1961, na verdade, foi ingrediente inicial para um caldo que terminaria no golpe que instituiu a ditadura militar em 1964.
Crédito, Arquivo Nacional
Morte de Getúlio Vargas
Cercado por uma crise política e inúmeras pressões , Vargas tirou a própria vida no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, então sede da Presidência da República.
O então presidente comandava o Brasil pelo segundo período, após ser eleito pelo povo, em 1951, mas enfrentava uma oposição feroz.
Após a tentativa de assassinato do jornalista Carlos Lacerda, em 5 de agosto de 1954, a crise se intensificou. As suspeitas de envolvimento do governo no crime deram munição aos seus opositores, que pressionaram Vargas a renunciar.
Incapaz de encontrar uma saída política, Vargas optou pelo suicídio.
Historiadores apontam que sua morte apenas elevou a temperatura política, radicalizando ainda mais o debate ideológico que tomava conta do Brasil e culimando, posteriormente, no golpe militar de 1964.
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Entrada na 2ª Guerra Mundial
Alguns anos antes de sua morte, em 22 de agosto de 1942, Getúlio Vargas inseriu oficialmente o Brasil na 2ª Guerra Mundial.
Até então, Vargas mantinha o que era chamado de “neutralidade oportunista” diante do conflito, orbitando entre Estados Unidos e Alemanha, em busca das melhores oportunidades para a economia brasileira.
Mas, com o aumento da pressão americana, o então presidente consolidou um acordo com Washington e rompeu, em janeiro de 1942, as relações brasileiras com os membros do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
A entrada do país no conflito veio após submarinos alemães e italianos torpedearam e afundaram 36 navios mercantes brasileiros, causando mais de mil mortes.
Em novembro de 1943, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) realizou a convocação de mais de 25 mil soldados (conhecidos como “pracinhas”), que foram enviados para a batalha em junho de 1944.
Com isso, o Brasil se tornou o único país da América do Sul a enviar soldados sob sua bandeira para a guerra.