O maior desejo de Brenda de Moura, 25 anos, é segurar nos braços seu primeiro filho, um pequeno brasiliense que carrega em si a esperança de uma nova vida. Moradora de Unaí (MG), a auxiliar de cozinha está internada desde domingo (1º) no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), referência em gestações de alto risco. “Aqui fui muito bem tratada. O atendimento é muito bom e tem todas as condições de que preciso”, afirma.
Brenda é um entre milhares de brasileiros que, todos os anos, buscam atendimento especializado nos hospitais públicos do Distrito Federal. Dados da Secretaria de Saúde (SES-DF) mostram que, em 2024, três a cada dez partos realizados nas unidades da rede vieram de gestantes residentes fora do DF. Foram mais de 9,5 mil partos de outros estados, dos 31,5 mil registrados até agora. A maioria é de Goiás, com quase 9,4 mil bebês nascidos como brasilienses.
A situação reflete um fenômeno maior: a pressão sobre a rede pública do DF vinda de diversas regiões do país. No ano passado, das mais de 238 mil internações na rede da SES-DF, 20,96% foram de pacientes de outros estados. O número se mantém elevado nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs): 18,65% das diárias – cerca de 29 mil – foram usadas por moradores de 24 unidades da Federação. Goiás (46,5 mil) e Minas Gerais (1,8 mil) lideram o ranking.
Surpresas pelo caminho
Nem sempre a busca pelo SUS no DF é planejada. A manauara Cleonice Rodrigues, 78 anos, veio a Brasília celebrar o aniversário com a família. Após uma queda no banheiro, os planos mudaram. Hoje, ela aguarda uma cirurgia ortopédica no Hospital Regional de Planaltina (HRPl). “Ninguém quer passar muito tempo no hospital. Pelo menos consegui fazer quase todos os exames por aqui”, diz.
Também no HRPl, o motoboy Adriano Soares dos Santos se recupera de um acidente de trânsito. Morador de Planaltina de Goiás, ele considera o sistema de saúde do DF parte da sua vida. “Sempre que preciso, é para o DF que venho. O atendimento é bom”, resume. Curiosamente, Adriano também é um dos que nasceram na rede da SES-DF — há 22 anos.
Especialização atrai pacientes e demanda articulação
Nos períodos de doenças respiratórias sazonais, como o outono e o inverno, a situação se agrava. Nas alas pediátricas, 28% das internações são de pacientes de fora. O mesmo ocorre em casos que exigem tratamentos especializados, como cirurgias oncológicas (14,09% de pacientes externos), insuficiência renal crônica (18,38%) e doenças cerebrovasculares (13,83%).
Diante dessa demanda crescente, o secretário de Saúde do DF, Juracy Lacerda, destaca o caráter universal do SUS, mas também a necessidade de planejamento compartilhado. “O SUS é universal, e temos que atender a todos que chegam aqui”, reconhece. Mas exemplifica: enquanto a estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) aponta 7 mil novos casos anuais de câncer para a população do DF, a responsabilidade real chega a 9 mil, ao se considerar os moradores do Entorno.
Para o gestor, o caminho é o diálogo. “Para unirmos forças, é fundamental que tenhamos diálogo com os outros secretários e com o Ministério da Saúde.” Hoje, essas conversas já ocorrem, principalmente com os estados de Goiás e Minas Gerais, principais emissores de pacientes fora do planejamento da SES-DF.
A Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF) é o epicentro dessa discussão: em 2024, mais de 47% das internações de moradores dos 33 municípios da região ocorreram em hospitais do DF. “A meta é definir responsabilidades entre as partes, encontrando soluções perenes para o atendimento da população do DF e dos municípios vizinhos”, afirma Lacerda.
Enquanto autoridades buscam soluções de longo prazo, pacientes como Brenda, Cleonice e Adriano seguem contando com a estrutura do DF para terem seus tratamentos realizados com dignidade — mesmo que isso signifique cruzar fronteiras em busca de saúde.
Com informações da SES-DF