Crédito, Universal Pictures/Prime Video
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- Author, Ian Youngs
- Role, Repórter de Cultura da BBC News
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Os críticos de cinema deram um veredito: a nova versão de A Guerra dos Mundos, estrelada por Ice Cube como um homem que precisa salvar a humanidade de uma invasão alienígena sem sair de sua mesa, é ruim.
Mas quão ruim? Alguns disseram que trata-se da “pior adaptação possível da obra de HG Wells“. Outros escreveram que esse é “um dos piores filmes da década até agora”. Um terceiro grupo foi além e defende, na verdade, que a nova versão se tornou “um dos piores filmes já feitos”.
Quando as críticas começaram a chegar esta semana, a internet logo se deleitou com a pontuação de 0% que o filme garantiu no site Rotten Tomatoes, um agregador de críticas importante na web.
Enquanto alguns se juntaram alegremente à crítica, outros foram atraídos pelo filme, disponível na Amazon Prime Video, como mariposas em direção de uma chama.
“Sinto que preciso assistir agora”, escreveu o ator da série The White Lotus, Patrick Schwarzenegger, que, como filho de Arnold, talvez já tenha se deparado com algum filme de baixa classificação ao longo da carreira.
E ele não é a única pessoa a se sentir atraída por um filme com críticas negativas: alguns filmes terríveis ganham legiões seguidores cult.
Eles são tão ruins que ficam até bons, garantem os fãs.
‘Beira a paródia’
Lon Harris, produtor executivo do podcast em inglês This Week in Startups, gerou repercussão essa semana ao postar: “Chegar abaixo de 5% no Rotten Tomatoes tem basicamente o mesmo apelo para mim que quebrar a barreira dos 90%.”
“Isso é algo que preciso vivenciar.”
Um filme com uma classificação baixíssima certamente será interessante, confirmou Harris à BBC News.
“Uma pontuação muito baixa indica concordância universal. Este filme é ruim. Agora quero saber mais… Por que todos concordam? De repente, fiquei intrigado.”
“Assisto a muitos filmes, há muito conteúdo sendo lançado, e a maior parte é sem graça e esquecível”, opina ele.
Harris ficou intrigado o suficiente para assistir a A Guerra dos Mundos, e o filme de fato correspondeu às expectativas dele.
“É muito bobo. A performance solo de Ice Cube, que apenas reage a coisas na tela do seu laptop, beira, às vezes, a paródia e me fez rir com frequência. E há toda uma subtrama que envolve entregas de drones da Amazon, que é tão óbvia que é quase inacreditável que tenha sido incluída”, diz ele.
Não trata-se um filme sutil.
O agente de vigilância do governo interpretado por Ice Cube precisa salvar o mundo e sua família à distância, enquanto assiste à invasão alienígena se desenrolar na tela do seu computador.
Toda essa situação inusitada se explica pelo fato de o filme ter sido feito durante a pandemia de covid-19.
A produção ficou parada na prateleira desde então — até ser lançada agora.
Harris acrescenta: “Há um charme em assistir a um filme que não é superficial e polido como a maioria dos outros filmes que você vê, onde você pode ver as mãos dos artistas que trabalharam duro para cobrir problemas de orçamento e contratempos de produção.”
“Isso é mais interessante do que apenas ‘mais um filme de invasão alienígena’ para mim.”
Após a reação inicial, um crítico agora se compadeceu com A Guerra dos Mundos, e disse ter gostado da experiência.
“Este filme é realmente tão ruim?”, escreveu Jordan Hoffman, da revista Entertainment Weekly, na quinta-feira (7/8).
“A resposta é: absolutamente não. É certamente estúpido, mas também é muito divertido.”
Uma crítica, que concluiu que o “filme é uma bagunça, mas é hilário”, foi considerada positiva pelo Rotten Tomatoes.
Isso elevou a pontuação do filme de 0% para a marca de 4% no momento em que essa reportagem foi publicada.
Crédito, Getty Images
Filmes realmente atrozes são preferíveis àqueles simplesmente esquecíveis, de acordo com Timon Singh, que fundou o Clube de Filmes Ruins de Bristol, no Reino Unido, há uma década.
“Já vi filmes em que a câmera nem está em foco, a equipe entra em cena, a peruca do ator caiu — e ainda assim é um filme incrivelmente divertido”, lista ele.
Sucessos de bilheteria podem ser “inflados” e “chatos”, acrescenta ele, ao citar Transformers: O Último Cavaleiro, de 2017, como exemplo.
“Em comparação, Samurai Cop é tecnicamente um filme terrível, mas são 90 minutos de pura diversão, atuações terríveis, cenas de luta horríveis e, depois de assisti-lo, você nunca mais vai esquecê-lo.”
“Enquanto você provavelmente vai esquecer Transformers: O Último Cavaleiro ainda enquanto assiste.”
Crédito, Getty Images
Outros filmes que conquistaram seguidores cult incluem The Room, de 2003, descrito como “uma obra-prima trash” pelo site Daily Beast.
No entanto, The Room, feito pelo “autor de filmes ruins” Tommy Wiseau, é perversamente agradável o suficiente para ter respeitáveis 24% no Rotten Tomatoes.
Katharine Coldiron, autora do livro Junk Film: Why Bad Movies Matter (“Filme Porcaria: Por Que Filmes Ruins Importam”, em tradução livre), diz que é melhor assistir a um cineasta como Wiseau se esforçar e fracassar, do que a alguém que só faz o que pode.
“Quando um filme é feito com seriedade e fracassa, isso é algo ótimo de assistir”, diz ela.
Coldiron diz que seu filme ruim favorito é Os Embalos de Sábado Continuam, de 1983, a sequência do clássico Os Embalos de Sábado à Noite, dirigido por Sylvester Stallone, que foi muito criticado apesar do sucesso comercial.
“Todos os personagens, exceto um, são sociopatas, então o filme funciona quase que completamente”, analisa ela.
E o prêmio de pior filme vai para…
O Rotten Tomatoes tem uma lista própria dos piores filmes de todos os tempos.
Ela é direcionada a filmes dos últimos 25 anos, pois esses têm o maior número de críticas na internet.
Mas aqui estão os cinco melhores (ou piores, no caso), todos com uma pontuação de 0% no site.
1. Dupla Explosiva (2002)
Crédito, Sipa/Shutterstock
Um thriller de ação e humor, repleto de clichês, com roteiro, atuações e sequências de luta.
Elenco: Lucy Liu não convence como uma espécie de super-heroína e Antonio Banderas é um ex-agente grisalho do FBI.
Exemplo de crítica disponível no Rotten Tomatoes: “Uma bagunça desajeitada, imersa em caos, que ocasionalmente cai em clichês.”
2. Uma Chamada Perdida – A Vingança (2008)
Um remake insípido e ridículo (mas competente) de um filme de terror japonês sobre amigos adolescentes que recebem mensagens de correio de voz enviadas por suas versões futuras em seus momentos de morte.
Elenco: uma seleção aleatória, como Shannyn Sossamon, que se juntou à banda americana Warpaint; Meagan Good, agora esposa do ator Jonathan Majors; a comediante Margaret Cho; a futura estrela da série Família Moderna, Ariel Winter; e Ray Wise, de Twin Peaks.
Exemplo de crítica: “Uma mistura desanimadora de abuso infantil e trauma adulto.”
Crédito, Stoney Lake/Gonella Prods/Kobal/Shutterstock
Uma mistura de sentimentalismo, mistério sobrenatural, temática bíblica e drama de desastre aéreo. E não no bom sentido.
Elenco: Nicolas Cage preso em uma rotina de pós-vencedor do Oscar.
Exemplo de crítica: “O Apocalipse pega o fim do mundo e o transforma não em um pesadelo, mas em um bom e longo cochilo.”
4. As Mil Palavras (2012)
Um agente literário tagarela não deve falar — caso contrário, uma árvore mágica morrerá, e ele também. Por algum motivo…
Elenco: Um Eddie Murphy exagerado e decepcionante ao mesmo tempo.
Exemplo de crítica: “Lembra do Eddie Murphy? Ele costumava ser hilário.”
5. Gotti – Um Verdadeiro Padrinho Americano (2018)
Este fracasso do gênero de máfia foi criticado, entre muitas outras coisas, por retratar de forma simpática um chefão do crime da vida real, John Gotti.
Elenco: John Travolta mostra que não é Marlon Brando. A esposa dele, Kelly Preston, interpreta a esposa de Gotti.
Exemplo de crítica: “Prefiro acordar ao lado de uma cabeça de cavalo decepada do que assistir esse filme novamente.”