Durante dezenas de anos, no início do século passado, as fazendas não tinham cerca no Mato Grosso do Sul. As primeiras, foram montadas somente na frente, mas as do fundo e laterais demorariam muito tempo para começarem a ser levantadas. O gado do vizinho vivia junto com o dos demais fazendeiros do entorno. Aparentemente era uma bagunça, propicia a conflitos. Mas essa não era a realidade. Existiam peões profissionais em reconhecer o gado de cada fazendeiro que resolviam qualquer dúvida sobre na propriedade das vacas. Eram algo semelhante a “juiz de vaca”, debelavam qualquer pendenga.
Agosto, mês de parição e separação.
Agosto, o mês de parição, era difícil e complicado o serviço de distinguir os bezerros onde havia vários donos. Existiam pessoas que guardavam na memória todos os recém-nascidos. A historia nos legou apenas dois nomes desses “juízes de vaca”. Austrílio era capaz de separar cem deles para dez diferentes donos, sem perigo de errar. Mas o recordista nesse ramo foi o Anísio, ambos da região da Vacaria.
O nelore acabou com o juiz de vaca.
Só era possível separar vacas e bezerros devido à cor de suas pelagens. O gado era uma mestiçagem de “curraleiro com china e franqueiro”, dizem os textos históricos. Geralmente miúdo, precisando ser alimentado durante quatro anos para ser abatido. De pelagem variada, multicor, eram o “araçá, macaru, osco, baio, jaguarês e brazino”. Cores esquisitas, lindas e fáceis para distingui-los. Duas vezes eram recolhidos às mangueiras: para ferrar e para classificar quando levado à venda. Tudo mais era feito nos rodeios, inclusive a castração. Não havia troncos, bretes e nem guilhotinas. Faziam o serviço a laço. A chegada do nelore mudou tudo. É impossível fazer a diferenciação, todos nascem muito parecidos. Foi assim que desapareceram os juízes de vaca e cercaram as fazendas de nossa região.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.
