Como Direitos Humanos, Inclusão e Criatividade constroem nosso futuro
Nos últimos tempos, uma brisa de bem-vinda surpresa tem soprado no debate público. Cidadãos que, por muito tempo, olharam com desconfiança para a bandeira dos Direitos Humanos, hoje se interessam e se indignam com possíveis arbítrios, invasões e injustiças. Celebro com o coração em festa esse despertar. É um sinal de que a semente da consciência, mesmo em solo árido, pode começar a brotar. Essa preocupação recém-descoberta é a porta de entrada para um convite maior, um chamado que faço com a alma aberta: que essa luta não seja seletiva. Que a mesma energia usada para defender a si ou aos seus seja o arado que abre caminhos para todos, sem exceção.
Os Direitos Humanos não são uma capa que se veste apenas quando a tempestade nos ameaça. São o sol que deve brilhar para todos, especialmente para aqueles que vivem na sombra: os que têm o estômago vazio, as mãos sem trabalho digno, a alma excluída do banquete da sociedade. Para todos os Humanos! Mas, afinal, o que é essa grandiosa tapeçaria que chamamos de Direitos Humanos? Em nossa terra, ela é tecida com cinco fios de ouro, presentes em nossa Constituição: Vida, Liberdade, Igualdade, Propriedade e Segurança. Contudo, é preciso enxergar além da letra fria.
A Vida não é só o fôlego nos pulmões; é a plenitude do ser, é o direito a ter, como cantavam os Titãs, “comida, diversão e arte”.
A Liberdade não é um cavalo selvagem a correr sem rumo; ela tem seu cabresto na responsabilidade. Quem colhe os frutos de seus atos deve também ser o guardião de suas consequências.
A Igualdade não é a tentativa de nos fazer todos iguais, mas sim de aplainar o terreno para que cada um, com sua beleza única, possa florescer.
A Propriedade não se resume a cercas e escrituras; ela é tudo o que nos é próprio, nosso tesouro interior: nossas capacidades, nosso suor, as experiências que nos moldam.
E a Segurança? Ah, essa vai muito além dos muros e das sirenes. É a certeza do pão na mesa, do leito no hospital, do livro na mão da criança.
Quando entendemos essa profundidade, percebemos algo luminoso: a promoção dos Direitos Humanos é o solo fértil onde a Inclusão Social pode, finalmente, fincar raízes. É impensável colher os frutos da inclusão sem antes semear o respeito incondicional à dignidade de cada um. E por que a Inclusão é a colheita mais preciosa? Porque é nela que a mágica acontece. Quando pessoas diversas, com suas forças e fragilidades, suas cores e dores, dão as mãos e convivem, uma centelha divina se acende.
É nessa ciranda de diferenças, onde a força de um ampara a fraqueza do outro, que a criatividade brota, selvagem e potente. Ideias criativas, quando regadas pelo trabalho perseverante de equipes plurais e acolhedoras, transformam-se em inovações. E são as inovações — sociais, culturais, econômicas — que constroem a ponte para um desenvolvimento verdadeiro. Elas geram a riqueza material e espiritual que nos permitirá aprofundar ainda mais os Direitos Humanos.
Percebe a beleza desse movimento? É um ciclo virtuoso, uma espiral ascendente de bem-estar. Direitos geram Inclusão. Inclusão gera Criatividade. Criatividade gera Desenvolvimento. E o Desenvolvimento nos dá condições de garantir mais Direitos.
Este é o convite. Que o interesse momentâneo se transforme em compromisso perene. Que possamos construir juntos uma nação onde cada vida humana não apenas sobreviva, mas floresça em toda a sua sublime e criativa potencialidade. Essa é a única jornada que realmente importa.
(*) André Naves, Defensor Público Federal e especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social
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