Fontes do governo da Argentina, liderado pelo presidente Javier Milei, negaram nesta quarta-feira (20) à agência de notícias Reuters e à CNN Brasil terem recebido uma carta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com pedido de asilo político. A Gazeta do Povo entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores argentino e com a embaixada do país em Brasília para comentar o tema, mas até o momento não obteve resposta oficial.
A negativa do governo argentino ocorreu após a Polícia Federal afirmar ter encontrado no celular de Bolsonaro um arquivo de texto nomeado “Carta JAIR MESSIAS BOLSONARO.docx”, destinado a Milei. Segundo a PF, o documento foi salvo em fevereiro de 2024, dois dias depois de Bolsonaro ter seu passaporte apreendido na Operação Tempus Veritatis.
O arquivo, com 33 páginas, traz um pedido formal de asilo em que o ex-presidente afirma ser alvo de perseguição política no Brasil. Em um dos trechos, Bolsonaro escreve:
“Eu, Jair Messias Bolsonaro, solicito à Vossa Excelência [Milei] asilo político na República da Argentina, em regime de urgência, por eu me encontrar na situação de perseguido político no Brasil, por temer por minha vida, vindo a sofrer novo atentado político, uma vez que não possuo hoje a proteção necessária que se deve dar a um ex-chefe de Estado, bem como por estar na iminência de ter minha prisão decretada, de forma injusta, ilegal, arbitrária e inconstitucional pelas próprias autoridades públicas que promovem a perseguição contra mim, diretamente da mais alta Corte do Poder Judiciário brasileiro.”
Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), foram indiciados nesta quarta-feira pela Polícia Federal no inquérito que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado em 2022. Segundo a PF, ambos teriam atuado para obstruir as investigações e participado de articulações que caracterizariam “abolição violenta do Estado Democrático de Direito”.
O advogado de Bolsonaro, Paulo da Cunha Bueno, declarou nesta quinta-feira (21) que a carta de asilo foi uma sugestão que foi descartada de imediato.
“A fuga nunca foi uma opção. Depois de rejeitar a ideia do asilo, o ex-presidente não apenas permaneceu no Brasil, como compareceu a todos os atos do processo contra ele, inclusive àqueles para os quais não foi convocado”, disse o advogado à Folha de S. Paulo.