as opções de Mello Araújo na eleição de SP


Enquanto seguem as indefinições sobre as candidaturas à Presidência da República, ao governo e ao Senado para as eleições de 2026 no estado de São Paulo, um personagem discreto que vem se posicionando por fora e pela direita do campo político pode crescer subitamente — jogando praticamente parado. Considerado uma figura extremamente fiel ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o  vice-prefeito de São Paulo, coronel Ricardo Mello Araújo (PL), vem ganhando destaque e a preferência de cada vez mais membros do núcleo duro político do ex-presidente. 

O vice-prefeito nega a articulação em torno do seu nome para uma chapa ao Senado por São Paulo em 2026, mas admite que pode encarar a eleição para o Congresso no ano que vem — apenas se Bolsonaro pedir. “Se cogitaram meu nome, não estou sabendo”, afirmou a jornalistas recentemente em São Paulo. “É o presidente Bolsonaro quem decide”, completou.

Mello Araújo sai de maneira recorrente em defesa do padrinho político. “Está errado, é um descaso o que estão fazendo, nosso presidente tem que estar no jogo em 2026”, afirma o vice-prefeito paulistano em vídeo publicado no início de julho. “Se o nosso país é um país democrático, ele tem que estar na eleição em 2026 e o povo tem que cobrar isso aí. É um absurdo o que nós estamos vendo, o presidente elegeu um monte de gente e essas pessoas estão virando as costas”, disse ele então.

Líder em todas as pesquisas de sondagem de intenção de votos para o cargo nas eleições do ano que vem, Eduardo Bolsonaro está nos Estados Unidos articulando as sanções do governo Trump contra o Brasil como forma de pressão contra o processo por tentativa de golpe de Estado contra o pai no Supremo Tribunal Federal (STF), e tem repetido que não vai voltar tão cedo. 

“Não vejo a possibilidade de eu voltar agora”, afirmou Eduardo durante entrevista ao podcast Inteligência Ltda. “Se eu voltar, o Alexandre vai me prender”. O próprio ex-presidente também afirmou recentemente que Eduardo não voltará a tempo das eleições de 2026. “Acredito que ele vá buscar uma alternativa de se tornar um cidadão americano e não volte mais para cá”, afirmou em coletiva de imprensa, após ser alvo das novas medidas coercitivas determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF — e antes de ser decretada a prisão domiciliar.

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Nome alternativo a Eduardo Bolsonaro ainda não é ventilado publicamente em SP

A articulação de um nome alternativo ainda é visto como tabu na direita paulista, pelo menos enquanto a própria família Bolsonaro não apontar um candidato alternativo publicamente. “Eduardo é nosso  candidato”, afirmou à CNN Brasil Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL. 

“No fundo, tudo depende do Tarcísio (de Freitas, governador do estado) e do Bolsonaro, o Eduardo não vai voltar tão cedo depois de tudo que está acontecendo”, diz uma liderança do PL em São Paulo à reportagem da Gazeta do Povo, reservadamente. “A vaga dele fica aberta, mas está reservada para quem a família escolher para o lugar. Temos que ter paciência e esperar o tempo deles”, afirma o político paulista. 

Nesse contexto, ganha pontos o nome de Mello Araújo. Ao contrário de outros políticos apoiadores do ex-presidente — como o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (Progressistas), ou o deputado federal Ricardo Salles (Novo) — o vice-prefeito de São Paulo nunca demonstrou interesse neste ou qualquer outro cargo para as eleições de 2026, e suas ambições políticas nunca ameaçaram se chocar com a do padrinho político. 

Segundo a liderança do PL, isso agrada os Bolsonaro. “O Mello Araújo é visto pela família como um dos políticos mais fiéis em São Paulo, que não vai se posicionar sem uma orientação do Bolsonaro”, diz. “Paradoxalmente, por isso mesmo ele pode ganhar a indicação para ser o candidato do ex-presidente para a vaga na eleição, mesmo se não quiser.”

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Mello Araújo pode se destacar em diversos cenários para 2026

Dessa forma, o vice pode ganhar destaque no ano que vem em diversos cenários diferentes. Caso o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), dispute o governo do estado no lugar de Tarcísio — o que, por sua vez, só deve acontecer caso este vá para a disputa presidencial e não tente a reeleição em São Paulo — Mello Araújo vira prefeito da maior cidade do Brasil por quase dois anos, um ativo enorme para ele e para seu padrinho político. 

Na ausência de Tarcísio nos cenários testados, Nunes tem pontuado bem em pesquisas de intenção de voto recentes para o governo do estado em 2026. Outro fator propício à aventura eleitoral é que o MDB possui grande capilaridade nos municípios do estado. Caso o atual governador não dispute a reeleição, a chance de o prefeito tentar virar governador é grande. Nesse caso, depende de Tarcísio se Mello Araújo será prefeito ou não. 

Reservadamente, Mello Araújo já disse a aliados que topa abandonar o cargo na prefeitura para se arriscar em uma eleição incerta em São Paulo se for uma missão dada pessoalmente por Bolsonaro.

“Do ponto de vista de projeto de poder, assumir a prefeitura sem precisar vencer uma eleição pode ser muito estratégico para Mello Araújo, caso Nunes renuncie para disputar cargo de governador”, afirma o cientista político Samuel Oliveira. “Ele ganharia experiência executiva e palanque próprios, podendo inclusive colher resultados administrativos que fortaleçam seu nome. Em 2028, poderia concorrer à reeleição como prefeito já no cargo. Ser prefeito de São Paulo é um cargo de alto perfil, frequentemente projetando políticos a voos mais altos – ex-prefeitos da capital já se tornaram governadores, ministros e até presidentes. Seria uma opção mais segura.”

No caso de o governador de São Paulo partir, ao invés disso, para a reeleição, ganha força o nome do vice-prefeito da capital para o lugar de Eduardo na eleição ao Senado pelo estado. Reservadamente, Mello Araújo já disse a aliados que topa abandonar o cargo na prefeitura paulistana para se arriscar em uma eleição incerta em São Paulo se for uma missão dada pessoalmente a ele pelo ex-presidente — o que ainda não aconteceu. 

“Mello Araújo pode, sim, ser um nome competitivo ao Senado se contar com o apoio explícito de Bolsonaro e da máquina do PL em São Paulo. Sua lealdade ideológica é um trunfo junto ao eleitorado de direita e preenche o requisito de “candidato oficial” do Bolsonaro que muitos eleitores buscam”, afirma Oliveira. “No entanto, seu baixo perfil público e a falta de trânsito político amplo representam obstáculos. A decisão também lhe custaria o cargo atual e a chance de virar prefeito”, avalia o cientista político.



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