A transmissão de Benfica 1 x 0 Bayern, na tarde desta terça-feira (24), colocou os nervos à flor da pele, especialmente nas cabines da Globo e do SporTV. O desconforto de narradores e comentaristas era evidente. Havia um temor não declarado — mas escancarado nas entrelinhas — de que o Flamengo estivesse prestes a duelar, logo de cara, com um dos adversários mais indesejados do torneio: o Bayern de Munique, pragmático, azeitado e frio. Um pesadelo em forma de time.
O Flamengo — apesar do empate de ontem com o Los Angeles FC — terminou em primeiro do grupo, e, curiosamente, no extremo oposto do espectro, um grupo de jornalistas cariocas, flamenguistas apaixonados naturalmente, entrou em transe. Após aquela atuação de gala contra o Chelsea, talvez a melhor do Mengão nesta década, esses analistas começaram a sonhar com o improvável: vencer o Bayern no próximo domingo, em Miami, embalar contra o PSG (que certamente eliminará sem sustos o Inter Miami de Messi), e, depois, passar por cima de Manchester City e Real Madrid.
Já pensou? A ideia é enfileirar quatro gigantes europeus numa sequência alucinante de mata-mata, derrubar todos eles como se estivesse numa espécie de Cariocão, até chegar ao topo do mundo. É ou não é um conto de fadas?
Essa euforia não é análise. É paixão. É devaneio com microfone. Esses jornalistas — que não citarei nominalmente — parecem ter esquecido que do outro lado há clubes estruturados, físicos, intensos, com jogadores que decidem em detalhes. O Chelsea, vale lembrar, veio desfalcado, desorganizado e visivelmente sem ritmo. O Bayern, não. O Bayern é outro nível. Não perdoa erros. Não dá margem para esperanças românticas.
É verdade que o futebol brasileiro surpreende neste Mundial. Já colocou três clubes na fase de mata-mata e pode ainda levar o Fluminense, que hoje precisa só empatar com o Mamelodi Sundowns, da África do Sul. Um feito impensável duas semanas atrás, diante da hegemonia europeia dos últimos anos.
O contraste não poderia ser mais gritante: enquanto clubes brasileiros avançam com consistência, o Boca Juniors — gigante tradicional da América do Sul — protagonizou uma das eliminações mais vexatórias da história dos torneios oficiais da FIFA. Empatou com o Auckland City, um time semi-amador da Nova Zelândia, e voltou para casa pela porta dos fundos, humilhado.
Sim, o Flamengo merece reconhecimento pelo que apresentou até agora. Mas é hora de separar entusiasmo de delírio. A maratona que se projeta à frente exige muito mais que confiança: exige perfeição. E o Mundial de Clubes, convenhamos, não costuma dar espaço para sonhos tão doces assim.