Crédito, Reuters
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- Author, Daniel Gallas
- Role, Da BBC News Brasil em Londres
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“O Brasil institucional, liderado pelo presidente Luiz Inácio da Silva, e o bolsonarismo — sem seu líder, Jair Bolsonaro, que está em prisão domiciliar — foram às ruas neste domingo, 7 de setembro, Dia da Independência, em manifestações separadas”, disse o principal jornal da Espanha.
“A esquerda reuniu cerca de 8 mil pessoas em São Paulo, enquanto o bolsonarismo reuniu cerca de 42 mil pessoas na maior de suas passeatas na mesma cidade, segundo o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento”, destacou o jornal.
O jornal também falou que Lula liderou o desfile oficial de 7 de setembro, que não contou com a presença de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Lula disse em pronunciamento na televisão que “não somos nem seremos de novo colônia de ninguém” e chamou de “traidores da pátria” os políticos que “estimulam ataques contra o Brasil”.
Direita superou ‘significativamente’ a esquerda
O jornal americano New York Times disse que apoiadores de Bolsonaro “inundaram as ruas na véspera de sua esperada condenação”.
“Milhares de brasileiros foram às ruas no Dia da Independência do país, no domingo, em protestos políticos, abrindo uma semana tensa que deve terminar com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro”, disse o jornal americano, destacando que as manifestações foram majoritariamente pacíficas e aconteceram em cidades de todo o país.
“À direita, brasileiros envoltos em bandeiras brasileiras e americanas protestavam contra o processo criminal contra Bolsonaro, acusado de tentar se manter no poder após perder a eleição de 2022. À esquerda, pessoas pediam a prisão de Bolsonaro e denunciavam os esforços do presidente Trump para proteger o ex-presidente.”
“Na tarde de domingo, imagens aéreas de vários protestos deixaram poucas dúvidas de que os apoiadores de Bolsonaro superavam significativamente em número os manifestantes da esquerda, mostrando que — mesmo em meio a seus problemas legais — ele continua sendo uma força política significativa no Brasil”, diz o artigo do New York Times.
O artigo questiona em seguida: “Mas isso vai importar?” — destacando que se espera a condenação de Bolsonaro, com penas que podem chegar a 40 anos de cadeia.
Crédito, Reuters
O jornal americano disse que “com a condenação de Bolsonaro vista como inevitável tanto pela direita quanto pela esquerda, os protestos de domingo se concentraram em grande parte na questão da anistia”.
“A questão da anistia é particularmente sensível no Brasil, onde oficiais militares já receberam essa proteção por crimes cometidos durante a ditadura do país, de 1964 a 1985, quando brasileiros foram presos, torturados e desaparecidos.”
Bolsonaristas ‘suplicam’ apoio de Trump
O jornal britânico The Guardian cobriu as manifestações bolsonaristas em um artigo com o título: “‘Ele é nosso último recurso’: apoiadores de Bolsonaro suplicam para que Trump intervenha no julgamento do ex-presidente por golpe”.
“O presidente de esquerda do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, prometeu que seu país não aceitará ordens de ninguém, enquanto seguidores de seu antecessor de extrema direita foram às ruas para pedir que Donald Trump endurecesse contra o governo e o judiciário do Brasil na véspera do julgamento de Jair Bolsonaro por supostamente planejar um golpe”, diz o Guardian.
“Nas manifestações de domingo, os apoiadores de Bolsonaro pediram a Trump que fizesse mais para ajudar seu líder de 70 anos, que vive em prisão domiciliar desde o início de agosto após violar uma ordem judicial que o proibia de usar as redes sociais. Se condenado esta semana, ele pode pegar uma pena de até 43 anos”, afirma o jornal britânico.
“No Rio, milhares de manifestantes se reuniram na praia de Copacabana para mostrar seu apoio a Bolsonaro, que mantém o apoio de milhões de brasileiros, apesar das alegações de que ele orquestrou um golpe fracassado.”
Crédito, Reuters
O Guardian afirma também que “a alegria da esquerda com a condenação antecipada de um político que, segundo promotores, tentou levar o Brasil de volta a um regime autoritário foi esfriada pela raiva com a intervenção de Trump e pelos temores de que o Congresso do país, dominado pelos conservadores, possa eventualmente aprovar uma anistia para Bolsonaro”.
As manifestações de domingo também foram destaque em outros veículos internacionais.
O Clarín, da Argentina, disse: “Milhares de pessoas vão às ruas antes do veredito sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro”. O também argentino La Nación noticiou: “Protestos de Bolsonaro desafiam Lula antes do julgamento sobre o suposto golpe”.