Após ser flagrado cantando “Garota de Ipanema” ao lado do presidente do iFood Brasil, Diego Barreto, em um jantar que reuniu empresários e apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, voltará a se encontrar com o empresário nesta semana.
Desta vez, ambos serão palestrantes no evento chamado Fórum Esfera, cujos organizadores afirmam que será debatido “o que há de mais urgente para o avanço do Brasil”. Também falarão no evento uma série de aliados de Lula e outros empresários interessados em ações que correm no Supremo.
Entre os participantes do fórum, estão:
- Luiz Fux, ministro do STF
- Ricardo Lewandowski, ex-ministro do STF e atual ministro da Justiça de Lula
- Ana Estela Haddad, esposa de Fernando Haddad e secretária no Ministério da Saúde
- Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central e ex-braço direito de Fernando Haddad
- Aloizio Mercadante, presidente do BNDES e um dos fundadores do PT
- Governadores Helder Barbalho (Pará) e Raquel Lyra (Pernambuco), aliados de Lula
Empresários com interesse direto em ações no STF estarão junto com Barroso
O iFood está diretamente interessado em ações que tramitam no Supremo, relacionadas ao reconhecimento de vínculo empregatício entre entregadores e plataformas de delivery.
Além do presidente do iFood, também está escalado para o evento o CEO da Vale, Gustavo Pimenta. A mineradora é outra empresa envolvida em um processo no STF que discute a incidência de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre os lucros obtidos por suas subsidiárias no exterior. O valor em disputa é estimado em R$ 22 bilhões. O julgamento virtual do caso, em andamento no Supremo desde 2015, será iniciado nesta sexta-feira (6), mesmo dia em que iniciará o evento com o ministro Barroso, políticos e empresários.
Outros empresários que têm presença confirmada no Fórum Esfera são o presidente do conselho de administração do BTG Pactual, André Esteves; o CEO da Cimed, João Adibe; e o acionista controlador da J&F, Wesley Batista.
A J&F é uma holding que controla a JBS, empresa de alimentos que pertence aos irmãos Joesley e Wesley Batista. Ambos estiveram envolvidos em um esquema de pagamento de propinas a políticos de diversos partidos, incluindo o uso de caixa dois em campanhas eleitorais. Os irmãos chegaram a ser presos por suspeitas de uso de informação privilegiada e omissão de informações em delações.
Até maio deste ano a holding esteve envolvida em disputas judiciais no STF relacionadas ao controle da Eldorado Brasil Celulose, em litígio com a empresa canadense Paper Excellence. No entanto, no mês passado as partes firmaram um acordo extrajudicial em que a mineradora se comprometeu a desembolsar R$15 bilhões, o que levou ao encerramento da ação.
Em outubro de 2024, Barroso já havia sido alvo de críticas por participar de outro evento do grupo Esfera, dessa vez em Roma, na Itália, com a presença de empresários interessados em ações que tramitam na Corte. Na ocasião, a ida de ministros do Supremo – Dias Toffoli também compareceu – e outras autoridades até o evento custou quase R$150 mil em despesas públicas.
Dono do Esfera é sogro de ministro do TCU e figura influente em Brasília
O Fórum Esfera é o principal evento promovido pela Esfera Brasil, que se intitula um “think tank independente e apartidário que reúne empresários, empreendedores e a classe produtiva”. Assim como o Grupo Lide, do ex-governador João Doria, o Esfera Brasil é famoso por promover grandes eventos, no Brasil e no exterior, que juntam empresários com autoridades públicas.
O fundador do grupo é João Camargo, dono de uma grande gestora de investimentos e sócio da CNN Brasil e da BandNews FM. O empresário, que circula com frequência pelos gabinetes de Brasília, é sogro de Bruno Dantas, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
No casamento entre Dantas e a filha de Camargo, no início de 2024, estavam presentes Barroso e mais seis ministros do STF (a maioria dos membros da Corte) e uma série de políticos do alto escalão de Brasília, que dividiram o espaço com grandes empresários.
“Grande parte do lobby político acontece nesses eventos”, diz analista
Para um analista político de Brasília, que falou sob anonimato à Gazeta do Povo, grande parte do lobby entre setor público e o privado ocorre em eventos como os dos grupos Esfera e Lide.
“Hoje em dia o Judiciário decide praticamente tudo, e isso explica boa parte dos problemas que temos no Brasil. E esse aumento de poder do STF nos últimos anos acabou gerando aquilo que a gente fala de judicialização da política. Quem perde no voto vai recorrer ao Supremo, e isso também acaba gerando essa relação com empresários – e não estou falando apenas do grupo Esfera”, diz.
Para o analista, uma particularidade do grupo Esfera é a falta de posicionamento claro sobre os assuntos dos quais seus eventos tratam. “Tanto o João Camargo quanto o Bruno Dantas são pessoas muito influentes, com muito acesso, o que serve como uma plataforma para criar esse espaço de interação. Então eles vendem acesso [a figuras do poder] para seus associados, mas não têm um posicionamento como instituição”, prossegue.
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Barroso chamou de “inculto” quem criticou jantar com CEO do iFood
Após vazarem imagens de Barroso “soltando a voz” ao lado presidente do iFood e de apoiadores do presidente Lula, o ministro chamou de “incultos” aqueles que criticaram o encontro.
Ao iniciar sessão extraordinária do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) dias após o jantar, Barroso disse que as críticas foram feitas pela imprensa com interesse de “vender jornais” e disparou: “A incultura é um problema difícil de sanar no Brasil”.
