LUIZA PASTOR
SÃO PAULO, SP´ (FOLHAPRESS0 – O tipo de terreno que recobre o monte onde morreu a brasileira Juliana Marins está no centro dessa tragédia, no vulcâo Rinjani, na Indonésia. Segundo especialistas, o local é escorregadio, formado principalmente por pedra-pomes, que é rocha vulcânica leve e porosa, proveniente das erupções recentes, que esfarela facilmente.
Seu resgate, que dadas as condições de amplitude térmica do local, deveria ter sido urgente, foi retardado pelo fato de não haver na região, segundo conta o montanhista brasileiro Pedro Hauck em vídeo publicado nas redes sociais nesta quarta-feira (25), equipes de bombeiros treinados para operações em alta montanha, apesar de o destino ser vendido em todo o mundo.
Hauck aponta ainda que as características do terreno fizeram com que a movimentação de Juliana, por menor que tenha sido, e que pode ter inclusive tentado subir até a trilha de volta, a levasse cada vez mais para baixo, complicando sua situação a cada momento. As condições meteorológicas desfavoráveis do local, onde a neblina cai repentinamente, e os problemas de desmoronamentos ainda maiores que poderiam advir de uma aproximação inadequada de helicópteros também teriam sido complicadores de sua situação.
“O Rinjani fica numa ilha na Indonésia, um lugar em que faz muito calor (…), é muito úmido e tem muitas nuvens”, conta Hauck. “Quando você tem muita nuvem, não consegue ter voo de helicóptero, (…), você põe a tripulação em perigo”, explica o montanhista, que falou com a Folha diretamente do acampamento base do Huayna Potosi, na Bolívia.
“Então, se você não tinha tempo para fazer um voo (..), tinha que fazer por via terrestre”, diz Hauck. E é aí que a coisa se complica, uma vez que a ancoragem de cordas que permitissem aos voluntários resgatistas aproximar-se do local da queda não poderia ser feita em um terreno tão frágil, do qual as estacas se soltariam facilmente. Foi preciso, então, esperar a chegada do tripé que aparece nas imagens do resgate divulgadas, que não estava disponível no parque e levou dois dias para chegar.
O tripé, explica Hauck, “é uma estrutura metálica que você monta e, a partir dela, você tem esse ponto de ancoragem e pode, então, instalar uma corda, um cabo de aço para acessar locais remotos locais onde você não consegue ir caminhando”.
Para Lineu César de Araújo Filho, vice-coordenador do grupo Cosmo, que há 30 anos faz resgates no Parque do Marumbi, no Paraná, a aproximação de helicópteros, mesmo sem neblina, mas com os fortes ventos da região, teria um complicador a mais, “a poeira ácida do terreno vulcânico, que poderia infiltrar-se no motor da aeronave e comprometer seu funcionamento”.
Mas ele pondera que, da mesma forma que drones de turistas filmaram Juliana ainda no primeiro ponto de sua queda, a gestão do parque, que contabiliza mais de 180 acidentes em cinco anos, com oito mortes (agora nove), deveria ter drones capazes de levar volumes contendo água, manta térmica e alguma outra ajuda para a pessoa acidentada.
Marcelo Cevadas da Silva, bombeiro aposentado da corporação paulista e instrutor de resgates, critica a falta de iniciativa por parte das autoridades responsáveis pelo parque onde fica o Rinjani, e a ausência de grupos especializados em resgate, com os equipamentos adequados, como a estrutura de ancoragem para as cordas que afinal foi utilizada, numa região tão instável.
“Tudo bem que helicópteros não pudessem se aproximar do local onde ela estava, mas por que não levar equipes para o alto, de onde ela caiu, para agilizar a operação de salvamento?”, pergunta ele, explicando que, se havia risco de o solo desmoronar, como ficou claro nos vídeos, as equipes deveriam ter descido em uma rota paralela ao local, para evitar que pedras caíssem sobre ela, provocando mais deslizamentos.