Fux questiona Cid sobre excesso de depoimentos


Durante interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luiz Fux questionou de forma incisiva o tenente-coronel Mauro Cid sobre a quantidade de depoimentos prestados ao longo das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado e os bastidores da atuação de militares próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Fux foi o único ministro da Primeira Turma do STF, além do relator Alexandre de Moraes, a interrogar Mauro Cid, o primeiro a depor por ter firmado um acordo de delação premiada. Os ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia terão acesso aos depoimentos para manifestação do voto.

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“Foram várias colaborações. Algumas sobre um fato, outras sobre outro. Mas no conjunto, o mesmo assunto foi tratado mais de uma vez?”, perguntou Fux, em tom crítico. A pergunta direta do ministro fez referência à estratégia adotada por Cid de apresentar versões fragmentadas em diferentes momentos, o que, segundo ele, teria como objetivo “ratificar ou confirmar” determinadas informações — inclusive, nomes e presenças em reuniões suspeitas.

“Nove delações representam nenhuma delação (…). Não tenho a menor dúvida de que houve omissão (de Cid). Tanto houve omissão que houve nove delações”, afirmou Fux.

Cid reconheceu que prestou “um grande depoimento inicial” e que, depois, foi chamado para outros complementares. “Fui chamado mais uma vez para identificar pessoas, depois outra vez sobre uma reunião de forças especiais num salão de festas em Brasília, e após a prisão, sobre o plano verde-amarelo”, disse. Segundo ele, esses relatos adicionais não seriam “complementares”, mas sim voltados a confirmar ou esclarecer pontos específicos.

Narrativas de Cid

Ao longo do depoimento, Mauro Cid tentou reforçar a narrativa de que atuava como uma espécie de “anteparo” entre o então presidente Bolsonaro e o ambiente externo, sendo constantemente procurado por militares e aliados preocupados com boatos e desinformações. Ele relatou o clima nos quartéis no final de 2022, marcado por “bravatas” em grupos de WhatsApp e fake news sobre decretos, mobilizações e ações golpistas.

“Minha função era muito focada no presidente. Eu não me engajava nos assuntos externos ao entorno imediato dele”, afirmou, mencionando que chegou a encaminhar temas e interlocutores a outras figuras do governo, como o general Braga Netto.

Fux também abordou o episódio de entrega de dinheiro em espécie a um aliado. Cid confirmou que o material — um envelope lacrado — “era dinheiro, sim, senhor”, mas alegou desconhecer o valor ou o uso pretendido.

O interrogatório deixou no ar a dúvida sobre a consistência do depoente. Ao destacar a quantidade de colaborações, Fux evidenciou a possível falta de linearidade nas informações prestadas por Cid, o que pode fragilizar sua posição como delator.

Com a retomada das investigações sobre tentativa de golpe e o papel de militares nos bastidores do governo Bolsonaro, o depoimento de Mauro Cid — e sua multiplicidade de versões — pode se tornar peça-chave para a linha de responsabilização no Supremo.



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