Gêmeas únicas no mundo com síndrome rara lutam por qualidade de vida


Probabilidade é de 1 a cada 1 milhão; casos de irmãos idênticos vivos com a doença são desconhecidos

Isadora e Luisa são únicas gêmeas no mundo com síndrome rara
Luísa e Isadora têm síndrome rara que afeta menos de 100 pessoas no mundo (Foto: Paulo Francis)

Ana Paula dos Santos Ramiro ouviu o que nenhuma mãe deveria ouvir. No momento mais delicado da vida, ainda na sala de parto, médicos disseram que as gêmeas idênticas, Luísa e Isadora, nasceram com má-formação e que não seriam reanimadas caso algo acontecesse. Hoje, as meninas carregam um título tão raro quanto desafiador: são as únicas gêmeas vivas no mundo diagnosticadas com a Síndrome Femoral Facial, condição com menos de 100 casos registrados em todo o planeta.

Gêmeas lutam contra síndrome rara e desafiam prognóstico médico. Luísa e Isadora, únicas gêmeas vivas com Síndrome Femoral Facial, superam expectativas iniciais de não sobrevivência. A condição, registrada em menos de cem casos no mundo, afeta o desenvolvimento ósseo e facial das meninas de forma distinta, apesar de serem univitelinas. A família busca tratamento especializado em Curitiba para garantir qualidade de vida às filhas. Os custos são altos e eles contam com a ajuda de doações e eventos beneficentes para custear as cirurgias e deslocamentos. A primeira cirurgia, orçada em 250 mil reais, visa corrigir o quadril e o fêmur de Isadora. Os pais se mantêm firmes no propósito de proporcionar autonomia às meninas e conscientizar a sociedade sobre a síndrome.

De acordo com pesquisas médicas, a probabilidade de uma única pessoa ter a condição é de 1 a cada 1 milhão e casos de gêmeos idênticos em que os dois tenham e estejam vivos é desconhecido. As duas são o terceiro caso registrado no Brasil.

A frase dita pelos médicos ficou gravada na mente da mãe, que agora luta para dar qualidade de vida às filhas. Com ajuda do marido, Tiago Ervê Gonçalves Calhao Silva, a família faz de tudo para oferecer autonomia às duas e minimizar os impactos da síndrome.

O diagnóstico foi uma verdadeira saga. Nenhum médico sabia o que as meninas tinham. A condição só foi descoberta no parto. Exames feitos durante a gestação apontavam chance de nanismo em uma das crianças, nada comparado ao que elas realmente têm.

Isadora e Luisa são únicas gêmeas no mundo com síndrome rara
Isadora e Luisa são únicas gêmeas no mundo com síndrome rara
Condiçãocompromete os ossos das pernas e da face (Foto: Paulo Francis)

Ana explica que Luísa não tem fêmur, os braços são calcificados em um ângulo de 90º, e mãos e pés têm formato de “garras”. Já Isadora tem o osso do quadril curto e apenas um rim. A mãe pontua que, apesar de serem gêmeas univitelinas, até na própria síndrome elas são diferentes.

“Quando elas nasceram, os médicos se assustaram e falaram que nunca tinham visto. Quando tinham 33 dias conseguimos tirá-las do hospital. Pedi ajuda, queria saber para onde ir. Falaram em Pierre Robin (condição congênita rara que acomete a parte crânio-facial e membros). Disseram que em Bauru tinha estrutura. Na época fizemos uma ação social porque precisávamos ir para lá e não tínhamos dinheiro. Não conhecíamos ninguém, só fomos e batemos na porta.”

Isadora e Luisa são únicas gêmeas no mundo com síndrome rara
Isadora e Luisa são únicas gêmeas no mundo com síndrome rara
Apesar de síndrome, pais apostam na autonomia das filhas para melhorar o desenvolvimento (Foto: Paulo Francis)

Na cidade, o casal conseguiu atendimento com um médico geneticista que cuida de pessoas com nanismo. Ele pediu um novo exame genético e disse já ter visto algumas displasias de quadril, mas nada igual à de Luísa.

“Ele pediu um exame de R$ 9 mil, mas não cobrou, e o resultado veio normal. Citou uma síndrome que um paciente estrangeiro teve e passou por lá há 20 anos. Era a Femoral Facial. Eles não sabem como surge, em que momento, mas não é genética.”

Depois do diagnóstico prévio, começou a saga pelos ortopedistas. Ana pesquisou em vários lugares até encontrar, pela internet, uma mãe que também viveu a síndrome com o filho. Ela contou que não havia médico no Brasil especializado, exceto um que fez especialização na Flórida e atua em Curitiba.

“Ele atende no CERO (Centro Especializado em Reconstrução Óssea) de lá. Passamos pela primeira consulta no ano passado. Fizemos um almoço, arrecadamos dinheiro e fomos. A gente paga tudo, com ajuda da família e dos eventos que organizamos em Bauru, Curitiba e São Paulo. Elas fecharam o Palácio em outubro. Nos menos de 100 casos publicados existe o registro de gêmeos univitelinos, mas um deles faleceu. Então, elas são as únicas vivas no mundo.”

Isadora e Luisa são únicas gêmeas no mundo com síndrome rara
Irmãs são único caso no mundo em que as duas crianças tem a síndrome e estão vivas (Foto: Arquivo pessoal)
Isadora e Luisa são únicas gêmeas no mundo com síndrome rara
Irmãs são único caso no mundo em que as duas crianças tem a síndrome e estão vivas (Foto: Arquivo pessoal)

Para custear o início do tratamento, a família precisa arrecadar R$ 20 mil, mas até agora conseguiu apenas R$ 9 mil. E isso é só o começo, já que uma das meninas precisará de cirurgia de quadril para corrigir o fêmur curto.

“Vamos para Curitiba por isso. O médico chegou a uma conclusão, mas precisa de exames para alinhar. No ano que vem o bicho pega. É 100% particular. A primeira cirurgia da Isadora custa R$ 250 mil. Ele vai alinhar o quadril, que é torto, o fêmur em formato de Z e o joelho. Faz de um lado e quatro semanas depois do outro. Temos que ficar lá sete meses. Vamos vivendo um dia de cada vez.”

Para o pai das meninas, o cenário é crítico, mas não é o fim do mundo. O casal se apoia e conta também com os dois filhos mais velhos, de 6 e 9 anos.

“Por serem univitelinas, elas são diferentes na síndrome. A Luísa é mais comprometida que a Isadora. Os médicos não sabem explicar o motivo. Não busco mais entender. Acho que há coisas que acontecem para a gente aceitar e focar em dar qualidade de vida. Precisamos que elas andem”, comentam os dois.

Isadora e Luisa são únicas gêmeas no mundo com síndrome rara
Isadora e Luisa são únicas gêmeas no mundo com síndrome rara
Família luta para fazer operação das filhas e dar qualidade de vida para as meninas (Foto: Paulo Francis)

Ana acrescenta que a personalidade delas também é distinta. Isadora é mais arteira e gosta de pular entre o sofá e as cadeiras da sala. Já Luísa é tranquila: “tudo está bom para ela”.

“Elas estão com dois anos e oito meses. A gente não para para pensar, só busca o melhor. Se parar, a gente enlouquece. É tanta coisa que já vivemos nesse tempo. Eu não sofro por elas serem assim, sofro se não conseguir dar qualidade de vida. Preciso prepará-las para a vida, para a escola. Elas são as primeiras gêmeas da família”, conta Ana.

“Eu fico mais preocupado em como a sociedade vai reagir. As pessoas julgam, maltratam, crianças falam sem pensar. Quanto mais informação a gente conseguir passar, menos as pessoas vão julgar e errar”, completa Tiago.

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