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- Author, Regan Morris
- Role, Da BBC News em Los Angeles
Quando os agentes da imigração chegaram à fazenda onde Jaime Alanis trabalhava, ele tentou se esconder. Subiu no telhado de uma estufa enquanto os oficiais detinham e prendiam dezenas de seus colegas de trabalho.
Ali de cima, Alanis esperava ficar fora de vista. Mas ele caiu. Quebrou o pescoço e também fraturou o crânio. Mais tarde, morreu no hospital.
Enquanto isso, agentes de imigração lançavam gás lacrimogêneo contra cerca de 500 manifestantes que se juntaram para impedir as operações em duas fazendas legais de cannabis. Alguns deles jogaram pedras, e o FBI informou que uma pessoa disparou uma arma contra os agentes federais.
Essas ações geraram protestos que levaram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a mobilizar a Guarda Nacional e os Fuzileiros Navais para proteger os agentes federais contra os manifestantes e garantir a realização das deportações em massa que ele prometeu há tanto tempo.
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Estima-se que no sul da Califórnia vivam cerca de 1,4 milhão de imigrantes indocumentados, muitos dos quais foram forçados a se esconder, com medo de ir trabalhar, ir à escola ou mesmo ao supermercado.
Com isso, as operações têm alterado a rotina das pessoas em uma das regiões mais populosas do país. Comércios fecharam as portas, cidades cancelaram eventos comunitários — incluindo a celebração tradicional de 4 de julho, com queima de fogos.
“Todo mundo está sempre em alerta”, disse uma vendedora de raspado — uma bebida mexicana doce com raspas de gelo — em Los Angeles, durante um domingo recente em um parque onde os campos de futebol e as mesas de piquenique costumavam ficar cheios, mas hoje estão praticamente vazios.
Enquanto preparava um raspado com calda de morango, ela demostrava cautela diante das perguntas, mas agradecia a presença de um cliente.
“Nunca é assim”, comentou.
‘Eles simplesmente te sequestram’
As batidas nas duas fazendas de cannabis já estão sendo apontadas como as maiores operações de imigração desde que Trump voltou à presidência.
Segundo veículos de imprensa, dos 361 imigrantes detidos durante as operações, quatro tinham uma ficha criminal “extensa”, incluindo estupro, sequestro e tentativa de abuso infantil.
Os agentes de imigração também encontraram 14 crianças imigrantes, que, segundo o governo, foram “resgatadas de situações com potencial de exploração, trabalho forçado e tráfico de pessoas”.
Embora a administração de Trump destaque com frequência os estupradores, assassinos e traficantes que têm sido presos durante as operações, centenas de imigrantes — muitos deles sem nenhuma condenação criminal, com décadas de vida dedicadas à construção de negócios, famílias e lares nos EUA — têm sido detidos no meio desse fogo cruzado.
“Eles simplesmente te sequestram”, diz Carlos, que preferiu não divulgar seu último nome com medo de ser deportado para a Guatemala, seu país de origem.
Carlos tem evitado ir ao trabalho desde que sua irmã, Emma, foi detida mês passado enquanto vendia tacos na porta de uma loja.
“Se você tem a pele mais escura, se é hispânico, eles simplesmente aparecem, te pegam e te levam.”
O governo afirma que as alegações de que as pessoas estariam sendo alvos por causa da cor da pele são “nojentas” e falsas.
Carlos diz que se sente um pouco mais seguro desde que um juiz federal na Califórnia determinou que a administração de Trump parasse de deter pessoas de forma indiscriminada por meio de patrulhas móveis de agentes federais.
Mas ele não acredita que as ações vão realmente parar e precisa voltar ao trabalho. “Como eu vou pagar meu aluguel?”, questiona. “Eu estou preso dentro de casa.”
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Igrejas e grupos de defesa dos direitos dos imigrantes têm se mobilizado para entregar comida a pessoas que estão escondidas. Eles também têm oferecido treinamentos para proteger imigrantes nas ruas e usado aplicativos e redes sociais para alertar quando os agentes federais estão por perto.
Quando dezenas de agentes armados vestidos com roupas camufladas chegaram ao MacArthur Park no início deste mês, poucos se surpreenderam.
Testemunhas disseram que nenhuma prisão foi feita, e ninguém foi visto correndo tentando fugir. Quando as tropas chegaram — com equipes de filmagem profissional —, as únicas pessoas presentes no parque eram os manifestantes, algumas crianças de um acampamento e pessoas em situação de rua dormindo na grama.
“É de partir o coração”, afirma Betsy Bolte, que mora perto do parque e foi até lá para protestar, gritando xingamentos contra os agentes.
“É uma guerra contra o povo — o coração e a alma da economia. E tudo isso é intencional. Faz parte do plano”, disse chorando enquanto mostrava aos repórteres as imagens que havia registrado.
Ativistas acusam o governo de terrorismo contra seu próprio povo.
“Isso faz parte de um programa de terror. De Los Angeles à Costa Central, a administração de Trump está usando o governo federal e os militares como armas contra os californianos”, declarou o grupo de defesa CAUSE.
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Mas nem todos os californianos concordam.
No início de julho, um único apoiador de Trump apareceu no protesto na fazenda de cannabis — e acabou sendo agredido, vaiado e cuspido pelos manifestantes.
Ironia ou não, o arquiteto de grande parte das políticas de deportação de Trump é um angeleno (pessoa que nasceu ou cresceu na cidade de Los Angeles): Stephen Miller.
O assessor sênior da Casa Branca cresceu em Santa Mônica, reduto liberal de Los Angeles, onde, ainda adolescente, era conhecido em programas de rádio conservadores por criticar o uso do espanhol em sua escola.
Em entrevista à Fox News, ele disse que os políticos democratas “violentos” da Califórnia que participaram de protestos estavam incitando violência contra os agentes federais de imigração.
“Nenhuma cidade pode ajudar ou encorajar uma invasão a este país contra a vontade do povo americano e dos agentes da lei encarregados de fazer cumprir essa vontade”, declarou.
“Vamos intensificar ainda mais as ações contra as cidades santuário, vamos dobrar, triplicar os esforços”, disse Homan a jornalistas, acrescentando que não há operações tão visíveis em locais públicos na Flórida porque todos os xerifes de lá permitem que agentes de imigração entrem nas prisões para deter imigrantes.
“Se não nos deixarem prender os criminosos dentro da cadeia, vamos prendê-lo na comunidade. Vamos prendê-lo no local de trabalho.”
Medo e mudança na rotina
Em Los Angeles, o impacto de um mês de batidas migratórias é perceptível. Nos parques e bairros antes movimentados por consumidores, pedestres, música e vendedores ambulantes, a ausência de sons familiares causa um silêncio inquietante.
Há 88 cidades no condado de Los Angeles, e muitas delas cancelaram eventos públicos de verão devido à intensificação das ações de imigração.
“Muitos moradores estão com medo e inseguros, o que faz com que eles fiquem em casa, parem de trabalhar e abandonem a vida pública cotidiana”, disse um comunicado publicado pela cidade de Huntington Park a respeito do cancelamento de eventos.
“Nossa prioridade é e continuará sendo a segurança e a tranquilidade da nossa comunidade.”
Agora, algumas imigrantes estão com medo de comparecer às audiências marcadas na Justiça, com receio de serem detidos na porta do tribunal.
O pastor Ara Torosian, da Cornerstone Church, no oeste de Los Angeles, contou que a maioria dos fiéis da sua congregação, de língua persa, são solicitantes de asilo. Um casal, com uma filha de três anos, foi detido do lado de fora da corte ao comparecer para o que acreditavam ser uma audiência “de rotina”. Agora, eles estão em um centro de detenção familiar no Texas.
Outros cinco membros da congregação de Torosian foram detidos em junho — dois deles na rua, enquanto o pastor filmava e implorava os agentes para parar.
“Eles não são criminosos. Estavam cumprindo a lei, não escondiam nada.”