Além passarem por tratamento humilhante, ainda tiveram gazes esquecidas dentro de seus corpos

Por serem vítimas de violência obstétrica, duas mães conseguiram na Justiça indenização por danos morais que somam R$ 30 mil. Elas tiveram bebês entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021 no Hospital Darci João Bigaton, em Bonito, a 297 km de Campo Grande, e além passarem por tratamento humilhante, ainda tiveram gazes esquecidas dentro de seus corpos. Elas tinham 20 anos na época.
Duas mães, ambas com 20 anos na época, receberão indenização de R$ 30 mil por violência obstétrica ocorrida no Hospital Darci João Bigaton, em Bonito (MS). Os casos aconteceram entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021, quando as pacientes sofreram tratamento humilhante e tiveram gazes esquecidas em seus corpos após os partos.As vítimas relataram diversos abusos, incluindo desrespeito ao plano de parto, uso não autorizado de ocitocina, comentários ofensivos e procedimentos realizados sem consentimento. O município de Bonito e o hospital, condenados solidariamente, arcarão cada um com 50% da indenização, após decisão mantida em segunda instância.
Além da instituição hospitalar, o município de Bonito, responsável pela manutenção do hospital, também foi acionado nas ações. No caso mais recente, de 2021, a mãe apresentou plano de parto que não foi respeitado. A denúncia da Defensoria Pública relata que o médico responsável nem sequer falou com a paciente ao entrar na sala de parto. Sem se apresentar, apenas orientou a equipe de enfermagem a aplicar ocitocina. O hormônio, que estimula as contrações uterinas, só pode ser utilizado em situações específicas e mediante consentimento da gestante, o que não ocorreu.
Ainda segundo a denúncia, o médico exigiu que a mulher deixasse a banqueta de parto e fosse para a cama assim que percebeu o nascimento iminente, mesmo após ela insistir que a posição horizontal dificultaria o processo.
“Menciona, ainda, que também teve seu pedido ignorado para que a criança fosse colocada em cima dela assim que nascesse, além do que o médico também aplicou anestesia no períneo da autora e, antes que a analgesia fizesse efeito, passou a dar pontos na laceração que havia ocorrido em sua genitália”, descreve o processo.
Para piorar, o médico teria feito comentários ofensivos durante o procedimento. “Dizia a todo momento que a autora havia acabado com sua vagina, que estava horrível, que deveria ter deixado ele fazer a episiotomia, que sua vagina apodreceria se infeccionasse por culpa exclusiva da autora. Insistiu nessa frase dizendo com bastante convicção que a carne da vagina iria apodrecer” e, por fim, “chamou todas as enfermeiras e a acompanhante da autora para mostrar sua vagina, situação absolutamente vexatória e desnecessária, que mais uma vez causou profunda humilhação”.
Dois dias após o parto, ainda com muito desconforto, a mãe resolveu se examinar com um espelho e, ao agachar, percebeu um corpo estranho. Ao removê-lo, constatou que se tratava de oito unidades de gazes.
Situação semelhante foi vivida pela segunda mãe, também atendida por outro médico da mesma unidade hospitalar. Ela não apresentou plano de parto, mas fez pedidos verbais por um atendimento humanizado que foram desconsiderados. Durante a fase expulsiva, foi levada para a sala de parto e colocada em posição de litotomia, ou seja, deitada de costas com as pernas elevadas e afastadas.
Tal posição é considerada inadequada por restringir os movimentos da mulher e dificultar a descida do bebê pelo canal vaginal. A denúncia relata que a paciente também passou por episiotomia, procedimento desaconselhado e que deve ser realizado apenas em casos específicos e com consentimento da gestante.
“Verbera que além de tal procedimento, uma enfermeira ainda lhe empurrou a barriga com o braço, efetuando a conhecida e proibida pelo Conselho Federal de Enfermagem ‘manobra de Kristeller’, dado seu potencial lesivo. Aduz que, no dia seguinte, teve alta médica e foi para casa com uma receita sem nenhuma orientação de retorno. Alguns dias depois, apresentou febre, perda de apetite e dores intensas”. Ao buscar atendimento, um médico encontrou e retirou um chumaço de gazes de suas partes íntimas.
Diante dos fatos, a Justiça determinou, em primeiro grau, o pagamento de R$ 15 mil para cada uma. O município e o hospital recorreram, mas perderam em segunda instância. Na fase atual, houve acordo para pagamento solidário, com cada parte arcando com 50% do valor da indenização.
A reportagem tentou contato com o hospital por telefone, mas as chamadas não foram atendidas. A Prefeitura de Bonito foi acionada por e-mail, e o retorno é aguardado.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.