Lula articula Simone Tebet para Senado em MS e redesenha disputa em 2026


Interferência do Planalto acirra guerra nacional, mas mexe em plano regional e pode romper aliança com Riedel

Lula mira Senado com Simone em MS, desafia unidade do PT e redesenha disputa
Simone e Lula em campanha para presidência de 2022 (Foto: Ricardo Stuckert/divulgação)

O ex-governador e deputado estadual Zeca do PT confirmou os rumores de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende articular a candidatura da ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), ao Senado por Mato Grosso do Sul em 2026. O apoio envolveria o PT e partidos aliados no Estado. “Tem essa história e nós queremos confirmar se procede ou não de que ele pode eventualmente solicitar uma articulação para a candidatura da Simone como senadora. Evidentemente que não queremos contrariar o presidente, ele é nosso líder”, declarou Zeca ao Campo Grande News.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva articula a candidatura da ministra Simone Tebet ao Senado por Mato Grosso do Sul em 2026, conforme confirmou o deputado estadual Zeca do PT. A movimentação visa fortalecer o campo governista em um estado tradicionalmente conservador e garantir apoio no Senado. A estratégia de Lula pode afetar a pré-candidatura do deputado federal Vander Loubet (PT) e redesenhar alianças locais. Simone Tebet, segundo lideranças do MDB, só aceitaria a candidatura mediante pedido direto do presidente, reconhecendo a perda de parte de sua base após aliar-se a Lula em 2022.

A adesão a essa costura significaria, no entanto, abrir mão da pré-candidatura do deputado federal Vander Loubet (PT), até então nome natural da sigla para a disputa. “Queremos ouvir dele [Lula] se podemos continuar ou não com a pré-candidatura do Vander”, afirmou. Segundo Zeca, o PT tem “condições objetivas” de conquistar novamente uma cadeira no Senado. A sigla elegeu em 2002 o então senador Delcídio do Amaral, rompido com o partido após a delação na Lava Jato. Zeca o chama hoje de “canalha”.

O movimento de Lula é estratégico: além de fortalecer o campo governista em um Estado com histórico conservador, busca neutralizar o bolsonarismo e garantir nomes mais alinhados ao Planalto no Senado, instância que ganhou centralidade por ameaças de pautas como o impeachment de ministros do STF, caso a extrema direita consiga maioria.

A própria Simone tem dito, segundo lideranças do MDB local, que só aceitaria concorrer ao Senado se houver um pedido direto e irrecusável do presidente. Filha do ex-presidente do Senado Ramez Tebet, que controlava um grupo conservador no Estado, a ministra teria admitido que perdeu parte de sua base ao se aliar a Lula em 2022.

Ainda assim, Zeca aposta que, com apoio do PT, Simone herdaria cerca de 300 mil votos, “o patamar da esquerda em MS”, e se tornaria competitiva em aliança com MDB e outros partidos. “O PT do Mato Grosso do Sul aprendeu a gostar muito da Simone. Tiro por mim: tenho hoje um apreço enorme por ela, pelo companheirismo e respeito ao presidente. É uma mulher preparada e madura”, elogia.

Em 2022, o PT obteve apenas 9,42% dos votos na disputa pelo governo estadual, mas no segundo turno apoiou Eduardo Riedel (PSDB), ajudando a virar a disputa contra o bolsonarista Capitão Contar. O apoio selou uma aliança inédita que deu ao PSDB espaço de governabilidade sem oposição de esquerda no Estado. Como contrapartida, Riedel deu ao partido o comando da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) e oito subsecretarias.

Senado no epicentro, põe alianças em xeque

A eleição ao Senado em 2026 terá caráter nacional e pode enfraquecer a ferrenha polarização entre Lula e Bolsonaro registrada em 2022, a mais renhida da história. Estarão em jogo 54 cadeiras, e a composição da Casa pode se tornar decisiva diante das ameaças de setores bolsonaristas de promover um ataque institucional via impeachment de ministros do Supremo. Em Mato Grosso do Sul, pelo menos sete nomes aparecem competitivos.

Entre os já colocados estão os senadores Nelsinho Trad (PSD) e Soraya Thronicke (Podemos), que contam com vantagem acumulada pelo envio de milhões em emendas parlamentares às suas bases. Só Nelsinho afirma ter destinado mais de R$ 2,3 bilhões entre 2019 e 2024, em cujo montante estariam as emendas, sobre as quais ele só informou aquelas da modalidade individual, que somam R$ 247,8 milhões. Soraya, por sua vez, conta ter repassado R$ 450,8 milhões ao Estado. Ambos terão ainda mais R$ 210 milhões em 2026, com alto poder de influência municipal. É, como se vê, uma vantagem e tanto.

Do outro lado, o ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB) também articula sua candidatura ao Senado. E se Lula bancar Simone, pode facilitar os planos do grupo tucano, que cogita abandonar a aliança com o PT e consolidar uma frente de direita.  Parte do entorno do governador Eduardo Riedel pressiona por esse rompimento, sugerindo inclusive a devolução de todos os cargos ocupados pelo PT e até a chefia da Casa Civil ocupada pelo ex-deputado Eduardo Rocha, marido de Simone cujo desempenho já é esvaziado pela concentração de mandas na seada do secretário de governo, Rodrigo Perez.

No início de abril, quando Riedel defendeu a anistia aos acusados pela tentativa de golpe, o PT regional se rebelou e por pouco a aliança não desabou.

Zeca tenta manter o PT no governo, mas exige respeito à autonomia do partido na disputa pelo Senado e pede neutralidade do governador na polarização entre Lula e Bolsonaro. “Queremos espaço e isonomia na disputa”, resume.

A senadora Tereza Cristina (PP), outra peça-chave no tabuleiro, deve indicar o deputado federal Luiz Ovando ou o presidente da Assembleia, Gerson Claro. Já o ex-presidente Jair Bolsonaro deve apoiar a vice-prefeita de Dourados, Gianni Nogueira. O risco de sobreposição de candidaturas de direita pode forçar o bolsonarismo a um alinhamento, que é tudo Riedel quer para evitar um concorrente de direita no ano que vem. Em 2022, o Capitão Contar, com apoio de Bolsonaro, chegou a vencer no primeiro turno.

Busca por uma alternativa de centro

Com 75 anos, Zeca se prepara para sua última eleição, como deputado estadual. Paralelamente, mira o futuro do partido e admite que o PT pode romper com os tucanos e lançar candidatura própria ao governo estadual, o nome que circula nos bastidores é do advogado e ex-deputado Fábio Trad. Sem mandato desde 2022, ele foi convidado para entrar no PT e construir uma alternativa para 2026 ou 2030.

Embora reconheça a aproximação, Fábio foi categórico: “Eu não tenho mais vontade e estou muito resistente à ideia de voltar à política. Pode ser que isso mude, mas se hoje fosse convidado, diria não”. Trad, no entanto, é o único da família que verbaliza críticas ao domínio tucano no Estado com apoio do PT regional. “Já há uma fadiga da população e um esgotamento do poder de sedução desse grupo. Se romper, o PT teria que encontrar um discurso criativo para se legitimar como oposição”, afirmou ao Campo Grande News.

Para analistas, a costura de uma frente mais moderada, com nomes como Fábio Trad, pode representar uma guinada suave do PT ao conservadorismo. Intelectual e progressista, o ex-deputado é, entre os outros dois irmãos com mandatos, o vereador Marquinhos e o senador Nelsinho, quem melhor representa o legado tradicional do patriarca Nelson Trad. Este alternou uma advocacia bem sucedida com vida pública em legendas de centro, depois de recuperar os direitos políticos cassados pela ditadura com o golpe de 1964.

Polarização reconfigurada e autonomia regional

O cientista político Daniel Miranda, da UFMS, acredita que a polarização entre Lula e Bolsonaro não será anulada, mesmo que um dos dois fique fora da disputa presidencial. “Ela já está estruturada no Brasil, com a consolidação da nova direita”, diz. Mas ele projeta um embate menos conflituoso do que em 2022. “A ausência de Bolsonaro pode distensionar o ambiente, mas não elimina o conflito político.”

Segundo Daniel, há uma extrema direita bolsonarista e uma direita oportunista “mais estratégica”, representada por líderes como Valdemar Costa Neto, Gilberto Kassab e os Republicanos, atores que surfaram na onda bolsonarista para ampliar espaço com pragmatismo.

Em Mato Grosso do Sul, essa realidade se expressa na autonomia que Azambuja e Riedel conseguiram construir. “Eles não dependem do Bolsonaro, podem esperar e avaliar o cenário. A vida política deles não está umbilicalmente ligada ao bolsonarismo”, resume Daniel.

Internamente, o PSDB também vive tensões: Riedel pode decidir por um “voo solo”, se afastando de Azambuja para buscar mais protagonismo, talvez em articulação com Tereza Cristina. “Quando um partido cresce, surgem grupos internos que disputam o poder. Riedel vai avaliar se seguir com Azambuja é o melhor caminho ou se deve buscar mais autonomia”, afirma o cientista político.

O governador e seu padrinho político travam negociações com o PL e aplaudiram discretamente a anulação da fusão do PSDB com Podemos, que nada acrescentaria e obrigaria o grupo a acomodar Soraya. Uma fonte ligada aos dois diz que Riedel pode tomar um novo caminho caso prosperem as negociações de federação envolvendo MDB e Republicanos para lançar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, candidato à presidência por uma frente de direita que arrastaria até o bolsonarismo. Nesse cenário, correligionários dizem que Azambuja toparia assumir o PL em Mato Grosso do Sul.



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