Concorrência no mercado interno aumentou e até quem não exportava foi impactado
As tarifas impostas pelo governo do presidente norte-americano Donald Trump impactaram diretamente o setor de pescados no Brasil. A tilápia, principal espécie exportada para os Estados Unidos, passou a enfrentar obstáculos para entrar no país e, com isso, a produção precisou ser redirecionada ao mercado interno. A mudança provocou reflexos em toda a cadeia, inclusive em indústrias que não exportavam, como as que trabalham com peixes regionais, a exemplo do pacu e do pintado.
A imposição de tarifas pelo governo dos Estados Unidos tem afetado significativamente o setor de pescados no Brasil, especialmente a exportação de tilápia. Com obstáculos para entrar no mercado americano, a produção foi redirecionada ao mercado interno, impactando toda a cadeia produtiva. O cenário tem forçado adaptações no setor, incluindo empresas que trabalham com peixes regionais como pacu e pintado. Em Mato Grosso do Sul, frigoríficos buscam alternativas, como o desenvolvimento de produtos diferenciados, para enfrentar a maior concorrência no mercado nacional, onde os EUA representam 70% das exportações brasileiras do setor.
Segundo dados da Peixe BR (Associação Brasileira de Piscicultura), Mato Grosso do Sul esteve entre os cinco estados que mais exportaram tilápia no 3º trimestre do ano passado, com os EUA como principal destino. Em 2024, já foram enviadas 562 toneladas do produto fresco ou congelado, conforme o painel da Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul).
Com a nova barreira comercial, frigoríficos e cooperativas correram para reposicionar seus estoques no mercado interno. Mas esse movimento também elevou a concorrência para quem já atuava nesse segmento, como é o caso do frigorífico Pirakuá, localizado em Três Lagoas, a 327 quilômetros de Campo Grande.
Especializado no beneficiamento de pacu e pintado, o grupo familiar tem sede administrativa na Capital e atende atualmente oito estados brasileiros, focado na produção de filés e costelinhas. Embora ainda não atue com exportação, o cenário econômico instável fez com que a empresa acelerasse a aposta em diferenciais de qualidade.
“A tilápia é um peixe conhecido, quem consome já sabe o que esperar. O pacu, não. A maioria ainda não conhece o sabor e a qualidade do filé. A gente viu nessa mudança uma oportunidade. Como trabalhamos com menor volume e foco regional, conseguimos reagir mais rápido, desenvolvendo uma linha de filés empanados, feitos com peixe de verdade, não carne processada. O produto leva 80% de filé e apenas 20% de cobertura”, explica o sócio Luiz Acorci Filho.
Ele avalia que o aproveitamento dos peixes regionais é mais completo que o da tilápia, que costuma ser comercializada apenas em filé. Mesmo assim, os desafios seguem constantes. “A gente dorme com um cenário e acorda com outro. Já enfrentamos crises, como a seca do ano passado, que nos obrigou a parar o frigorífico por dois meses. Mas vamos nos adaptando para manter a qualidade e seguir levando o sabor pantaneiro aos clientes”, completa.
Exportações em números – O principal produto do pescado brasileiro exportado é a tilápia. De janeiro a setembro de 2023, os Estados Unidos compraram mais de US$ 37,5 milhões da espécie, conforme a Peixe BR. Já em 2024, Mato Grosso do Sul exportou 438,9 toneladas em filés ou outras carnes de peixes frescos, refrigerados ou congelados, com valor total de US$ 1,72 milhão.
Segundo a Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), os EUA representam 70% das exportações brasileiras do setor. Quando o recorte é apenas da tilápia, esse percentual sobe para 90%.
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