Mesmo com exportações diversificadas, taxa de 50% deve forçar região a adotar nova política, diz estudo
Embora apresente baixa exposição relativa às exportações brasileiras direcionadas aos Estados Unidos, Mato Grosso do Sul é o estado do Centro-Oeste mais impactado pela tarifa imposta por Donald Trump. Os dados do ano passado mostram que 6,7% dos produtos estaduais foram embarcados para o país norte-americano.
Mato Grosso do Sul é o estado do Centro-Oeste mais afetado pelo aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos, segundo estudo da FGV IBRE. Com 6,7% de suas exportações direcionadas ao mercado norte-americano, o estado é especialmente vulnerável à tarifa de 50% sobre carnes bovina e de aves. A região Centro-Oeste, no entanto, apresenta baixa exposição geral às exportações para os EUA, exportando principalmente para China e Europa. O estudo indica que a região enviou US$ 1,5 bilhão em produtos aos Estados Unidos em 2024, representando apenas 3,7% das exportações brasileiras para aquele país.
A informação consta de estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE) sobre as novas tarifas, que entraram em vigor na quarta-feira, 6 de agosto.
Na prática, o comércio exterior de Mato Grosso do Sul está mais suscetível ao tarifaço de 50%, especialmente carne bovina e de aves, em comparação aos demais estados do Centro-Oeste.
Em seguida está Goiás, onde 3,3% das exportações são destinadas ao mercado norte-americano, seguido pela economia do Distrito Federal (DF), com 2,6% do total exportado para os EUA. Já o comércio exterior de Mato Grosso apresenta a menor taxa de dependência em relação aos Estados Unidos, com apenas 1,5% do total exportado pelo estado.
A pauta exportadora do Centro-Oeste é centrada em commodities agropecuárias e minerais, com destaque para carnes bovina e de aves (MT, MS, GO).
O estudo leva em consideração o resultado da balança comercial de 2024, quando os estados do Centro-Oeste exportaram cerca de US$ 1,5 bilhão para os EUA, representando 3,7% da totalidade das exportações brasileiras destinadas ao mercado norte-americano; e aproximadamente 3% do total exportado pela própria região. Os principais destinos da produção regional continuam sendo China e Europa.
Diversificação da pauta de exportação e valor agregado
Responsável pelo estudo, o pesquisador Flávio Ataliba, coordenador do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste do FGV IBRE, analisou o grau de vulnerabilidade das regiões brasileiras à taxação imposta pelos EUA. Para ele, a região Centro-Oeste apresenta baixa exposição relativa às exportações para os Estados Unidos, tanto em termos absolutos quanto proporcionais, em reação às demais regiões brasileiras. Isso deve-se à pauta de exportação mais diversificada.
Ataliba também comparou o risco socioeconômico dos estados do Centro-Oeste com os das regiões Norte (3,9%) e Nordeste (11% do total), considerados “alto e muito alto”, justamente devido à predominância de atividades intensivas em mão de obra e de baixo valor agregado.
“Isso acontece especialmente em cadeias com menor capacidade de absorção interna e forte concentração em pequenos produtores e cooperativas”, explica Ataliba. Entre os exemplos estão o mel natural exportado pelo Piauí e as frutas frescas embarcadas por Pernambuco e Bahia.
No Sudeste, que concentra 71% das vendas brasileiras para os EUA, a pauta exportadora é mais diversificada “e inclui tanto manufaturados de alto valor agregado, como aeronaves, quanto commodities estratégicas, como o petróleo”, afirma Ataliba. Os dois últimos produtos, segundo ele, ficaram de fora da tarifa de 50%.
Para o pesquisador, esse padrão desigual precisa ser considerado no momento de desenhar políticas para mitigar os impactos do tarifaço. Essas políticas devem ser apoiadas em três eixos estratégicos: cooperação federativa para o desenho de políticas de promoção comercial regionalizadas; reforço à inteligência comercial subnacional; e qualificação e diversificação das cadeias produtivas regionais, com investimentos em infraestrutura, inovação e acesso a certificações internacionais.
O pesquisador destaca ainda a importância da ampliação de parceiros comerciais e da diversificação da base de produção, além do valor agregado à base produtiva e à profissionalização da cadeia. Nesse sentido, ele ressalta a estratégia regional. “O Centro-Oeste, felizmente, diversificou as exportações para outros mercados e não centralizou em um único destino. Ainda que vá sofrer, porque tem a carne, a região sofrerá menos”, disse. “A escala de produção do Centro-Oeste e o grau de mecanização de grande parte da produção de grãos, além de toda a estrutura produtiva, têm um perfil socioeconômico diferente de outras regiões, como Nordeste.”