Crédito, Apu Gomes/Getty Images
- Author, Marina Rossi
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
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“Uma bomba explodiu ao lado do meu ouvido. Achei que tivesse perdido a orelha.”
Em meio à fumaça de bombas de gás jogadas pela polícia americana, o fotógrafo brasileiro Apu Gomes, de 41 anos, só percebeu que não havia se machucado quando uma mulher o viu e disse que ele não estava sangrando.
Crédito, Apu Gomes/Getty Images
O incidente com a bomba ocorreu no sábado, quando os protestos eclodiram na cidade de maioria hispânica, motivados, segundo o Departamento de Segurança Nacional (DHS, na sigla em inglês) dos EUA, por um boato.
“A polícia respondeu com violência [ao protesto] e os manifestantes ficaram ainda mais violentos”, conta Apu. “O bairro inteiro virou uma zona de guerra”.
As bombas de gás jogadas pela polícia invadiram as casas desse bairro, que fica no sul da cidade e é habitado, em sua maioria, por pessoas de origem hispânica.
A foto acima é deste momento. “É uma adolescente, que saiu de casa com a mãe para ver o que estava acontecendo”, conta o fotógrafo.
O gás das bombas faz arder olhos e narinas, e o leite costuma ser usado em momentos como esses para aliviar a ardência.
Apu diz que não foi possível conversar muito com a jovem. “Eles têm medo de se identificar, já que estão sendo perseguidos”, conta. Logo na sequência, uma bomba caiu ao seu lado e ele achou que havia perdido a orelha.
Crédito, Apu Gomes/Getty Images
Os manifestantes usam fogos de artifício, paus e pedras para atirar na polícia.
No sábado, arrancaram os bancos de metal que ficavam em frente à prefeitura para fazer barricadas e atirar os pés em direção aos policiais.
Donald Trump, por sua vez, usou sua autoridade para convocar a Guarda Nacional da Califórnia, algo que normalmente é decidido pelo governador do Estado, enquanto o segundo dia de protestos agitava a cidade.
Crédito, Apu Gomes/Getty Images
O fotógrafo conta que, no domingo, os policiais fizeram um cordão de isolamento bloqueando a passagem de muitos profissionais da imprensa por mais de uma hora, o que impediu a cobertura.
Crédito, Apu Gomes/Getty Images
Na segunda-feira, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, disse que está processando o governo Trump, após a Guarda Nacional ter sido mobilizada sem sua permissão.
Em uma publicação no X, Newsom escreveu: “Isso é exatamente o que Donald Trump queria”, escreveu. “A ordem que ele assinou não se aplica apenas à [Califórnia]. Isso permitirá que ele vá a QUALQUER ESTADO e faça a mesma coisa.”
O governador, que é do Partido Democrata, também anunciou a solicitação formal para que o governo Trump revogue o “envio ilegal de tropas ao condado de Los Angeles e as devolva ao seu comando”.
Crédito, Apu Gomes/Getty Images
‘Motins’
Após as cenas de violência, a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, declarou que “o que estamos vendo é o caos provocado pelo governo”. O envio de tropas federalizadas é uma “escalada perigosa”, segundo ela.
O ex-governador de Nova York, Andrew Cuomo, afirma que sua cidade natal pode ser a próxima, em meio a preocupações de que os protestos possam se espalhar para outras grandes cidades dos EUA.
“Acredito que vai piorar e que Nova York será o próximo alvo”, disse Cuomo à Rádio Bloomberg.
Ele acrescenta que a decisão de Trump de acionar a Guarda Nacional contra a vontade de Newsom fazia parte da fórmula do presidente para criar o caos.
No domingo, Trump disse a jornalistas que haverá “tropas em todos os lugares”.
“Não vamos deixar que isso aconteça com nosso país… Se vermos perigo para nosso país e nossos cidadãos, seremos muito firmes”, declarou o presidente, que prometeu ainda “enviar o que for necessário pela lei e pela ordem”.
Logo depois, o presidente usou as redes sociais para chamar os atos de “motins de imigrantes”. “Multidões violentas e insurrecionais estão cercando e atacando nossos agentes federais para tentar impedir nossas operações de deportação”, escreveu Trump.
Também foram registrados protestos em São Francisco. Cerca de 60 pessoas foram presas e três policiais ficaram feridos, segundo informou a polícia.
O Departamento de Polícia de São Francisco afirmou que os indivíduos se tornaram “violentos e começaram a cometer crimes que vão de agressão a vandalismo e danos materiais” na noite de domingo, levando o departamento a declarar uma reunião ilegal na área.
O departamento afirma que muitos deixaram o local, mas “vários indivíduos permaneceram e continuaram envolvidos em atividades ilegais”, incluindo vandalismo em prédios e em uma viatura policial.
Dois policiais sofreram ferimentos sem risco de vida e um foi transportado para um hospital local.
Em resposta ao comunicado, o prefeito Daniel Lurie afirmou que todos “têm o direito de fazer sua voz ser ouvida pacificamente”, mas “jamais toleraremos comportamento violento e destrutivo”.
Lurie afirmou que o protesto “acabou”, antes de acrescentar que “os esforços para atingir membros de nossa comunidade imigrante que contribuem para nossa cidade, apoiam nossa economia e criam suas famílias aqui tornam nossa cidade menos segura”.