Influente no meio evangélico, o pastor Silas Malafaia consolidou-se nas últimas décadas como uma das principais vozes do movimento no Brasil e também como um ator político de peso. Sua atuação vai muito além dos púlpitos: ele molda debates morais, articula campanhas eleitorais e pressiona diretamente líderes partidários.
Essa trajetória ajuda a explicar por que, nesta quarta-feira (20), ele se tornou alvo de um mandado de busca e apreensão determinado pelo ministro Alexandre de Moraes. O religioso também teve seu passaporte retido. No mesmo inquérito, a PF indiciou Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por suposta coação no curso do processo e obstrução de investigação no âmbito da investigação sobre a atuação do deputado nos Estados Unidos contra autoridades brasileiras.
“Eu sou um líder religioso. Eu não sou um bandido nem um moleque”, afirmou o pastor em coletiva de imprensa.
Fundador da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC), que reúne mais de 200 mil fiéis, e apresentador do programa Vitória em Cristo desde 1982, Malafaia construiu projeção nacional ao combinar mensagem religiosa, forte presença midiática e engajamento político.
Nos anos 2000, tornou-se um dos principais opositores do projeto de lei conhecido como PLC 122, que buscava criminalizar a homofobia — episódio que marcou seu protagonismo nas pautas de costumes e abriu espaço para sua ascensão como liderança conservadora.
A relação com Bolsonaro intensificou esse papel. Malafaia esteve ao lado do ex-presidente em momentos decisivos desde a campanha de 2018, mas não poupou críticas quando discordou de suas escolhas — chamando-o de “covarde” em 2024 por sua postura nas eleições municipais de São Paulo. Ainda assim, manteve-se como um dos organizadores mais ativos de manifestações da direita, coordenando atos recentes em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Agora, a investigação da PF coloca o pastor no centro de um novo embate. Para a corporação, ele teria ajudado a articular campanhas digitais de pressão contra ministros do Supremo, validando mensagens de Bolsonaro e orientando estratégias de divulgação.
Malafaia nega. “Eu converso com amigos […] Quem sou eu para orientar o Eduardo Bolsonaro?”, questionou ao ser abordado pela imprensa na noite desta quarta-feira (20).
Em paralelo, áudios e declarações recentes mostram um líder religioso cada vez mais atuante nos bastidores políticos, pressionando por cargos no PL e travando choques com figuras próximas ao ex-presidente, como Eduardo Bolsonaro, a quem chamou de “babaca”.
Como Silas Malafaia ganhou projeção no meio evangélico e fora dele
Silas Lima Malafaia nasceu no Rio de Janeiro em 14 de setembro de 1958 e é um dos pastores evangélicos neopentecostais mais conhecidos do Brasil. Atualmente, lidera a Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC), uma das maiores congregações do país. Casado com Elizete Malafaia, também pastora, é pai de três filhos: Silas Filho, Talita e Taísa.
Desde jovem, Malafaia foi influenciado pelo pai, o pastor Gilberto Malafaia, e pelo sogro, José Santos, figuras decisivas em sua formação espiritual. Iniciou sua trajetória como pregador no bairro da Penha, no Rio de Janeiro, onde permanece como pastor até hoje.
O programa Vitória em Cristo, lançado em 1982, foi determinante para consolidar sua projeção nacional. A atração o colocou entre os pioneiros da televisão no Brasil do conteúdo evangélico, servindo como espaço para a pregação do evangelho, a defesa de valores cristãos e debates sobre temas como família e espiritualidade.
Até 2009, Malafaia atuava na Assembleia de Deus da Penha, fundada em 1959 pelo pastor José Pimentel de Carvalho. Após a morte de seu sogro, em fevereiro de 2010, foi escolhido de forma unânime pelos membros para assumir a liderança da igreja. A partir daí, renomeou a denominação como Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC). Segundo a instituição, a igreja reúne atualmente cerca de 200 mil fiéis.
A presença constante em rede nacional permitiu que Malafaia ultrapassasse o ambiente religioso tradicional e alcançasse públicos de diferentes regiões e classes sociais. O sucesso de seu programa abriu caminho para eventos de grande porte, a criação da Associação Vitória em Cristo (Avec) e a fundação de sua própria editora, a Central Gospel, consolidando sua posição entre os líderes evangélicos mais influentes do país.
Atuação política de Malafaia ganhou força nos anos 2000
A participação política de Silas Malafaia tornou-se mais evidente a partir dos anos 2000. Inicialmente, apoiou Lula (PT) nas eleições presidenciais de 2002 e 2006, chegando a integrar um conselho informal ligado à Presidência. Em 2010, passou a apoiar José Serra (PSDB) e assumiu papel de cabo eleitoral em diversas campanhas, influenciando a eleição de prefeitos e vereadores em diferentes estados. Em 2014, esteve engajado na candidatura de Aécio Neves (PSDB) à Presidência.
Um dos episódios que mais marcaram sua atuação política foi a oposição ao Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/2006, que buscava criminalizar a homofobia ao alterar a Lei nº 7.716/1989. O pastor argumentava que a proposta feria a liberdade religiosa e de expressão, ao equiparar críticas à prática homossexual a crimes de discriminação.
O projeto foi aprovado na Câmara, mas enfrentou resistência no Senado. Em 2011, Malafaia liderou protestos em Brasília contra a proposta e participou de embates com parlamentares de esquerda em audiências públicas. A pressão do segmento religioso levou ao arquivamento do texto em 2015.
Relação com Bolsonaro é marcada por acenos e críticas
A relação entre Silas Malafaia e Jair Bolsonaro começou a se fortalecer de forma pública e estruturada em 2018, durante a campanha presidencial de Bolsonaro. Malafaia visitou Bolsonaro pouco antes do segundo turno das eleições, em outubro de 2018, onde conversaram sobre as dificuldades do país e fizeram uma oração conjunta pelo candidato.
Nessa ocasião, Malafaia destacou que Bolsonaro não era evangélico, mas disse ter esperança de que sua vitória pudesse atender também aos anseios dos evangélicos, mesmo ressaltando que a pauta social estava nas mãos do Congresso.
Desde então, Malafaia se tornou um dos principais líderes evangélicos a apoiar Bolsonaro, tanto durante o governo quanto nas manifestações públicas posteriores em defesa do ex-mandatário. A aliança envolveu articulação política e organização de manifestações em apoio ao ex-presidente, especialmente em momentos de crise política e judicial.
Apesar da proximidade construída ao longo dos anos, essa relação também passou por momentos de tensão e críticas. Em 2022, Malafaia expressou publicamente sua insatisfação com Bolsonaro por entregar o Ministério da Educação ao Centrão, classificando essa decisão como uma “vergonha”.
Já em 2024, Malafaia chamou Bolsonaro de “covarde” e “omisso” e considerou a postura do ex-presidente passiva e ambígua durante as eleições municipais, principalmente em São Paulo. Ele criticou Bolsonaro por não participar ativamente da campanha do candidato Ricardo Nunes (MDB) e por dar sinais dúbios em relação a um dos adversários na disputa, Pablo Marçal (PRTB). Malafaia chegou a declarar que Bolsonaro foi “a maior decepção” do pleito e questionou “que porcaria de líder é esse?”
Com o fim do governo de Bolsonaro, o pastor reforçou a parceria com o ex-presidente e se tornou o organizador de manifestações da direita. No ano passado, ele organizou grandes protestos, incluindo um ato na Avenida Paulista, em São Paulo, em 25 de fevereiro, outro em 21 de abril, também na capital paulista, além de manifestações em 7 de Setembro e outras datas importantes.
Em 2025, ele coordenou novas manifestações: em 6 de abril, na Avenida Paulista, em São Paulo; e em 16 de março, no Rio de Janeiro. Outro protesto ocorreu em 7 de maio, em Brasília (DF). Já em 29 de junho e 3 de agosto, o pastor também liderou os eventos na Avenida Paulista.