Sucesso do futebol em um país não vem só com amor à camisa – Artigos


Há um ditado por aqui que diz: “It takes a village to raise a child”, ou “é preciso uma aldeia para criar uma criança”. A frase traz a ideia de responsabilidade coletiva e importância de uma comunidade para que crianças se desenvolvam e prosperem.

Há paralelos com o esporte.

Domingo (27), Inglaterra e Espanha disputam a final da Eurocopa feminina. Nações que investiram no futebol feminino e colhem frutos. O torneio é na Suíça, terra da civilidade e da organização. Enquanto isso, segue a Copa América feminina no Equador, onde a seleção brasileira nem pôde se aquecer no gramado antes do jogo, tendo que fazê-lo em um vestiário com cheiro de tinta.

O Brasil sedia a Copa do Mundo em 2027. Para o bem e para o mal, não é Equador nem Suíça. Mas quais conceitos pode aproveitar?

Para organizadores: não há talento que sobreviva à falta de estrutura.

É inaceitável como Marta e cia. foram tratadas no incidente do aquecimento, com a justificativa de que o gramado recebia jogos em sequência.

Na Euro, o público já ultrapassou a marca de 600 mil depois da primeira semifinal. Com duas partidas de antecedência, quebrou o recorde da última edição. Na Copa América, ingressos começaram a ser vendidos oito dias antes do torneio. Estádios vazios, não à toa.

VAR no Equador, só na fase decisiva. Na Euro, árbitro de vídeo em todas as partidas.

“Tiros no pé” desvalorizando uma competição cujo sucesso com venda de ingressos e divulgação positiva beneficiaria os próprios organizadores.

Cuide do espectador.

“Experiência do torcedor” não é marketing. Quem faz um evento esportivo compete pela atenção do público com outras formas de entretenimento. É fundamental tratá-lo bem. Garantir que chegue e saia com comodidade e segurança. Na Euro, quem tem ingresso anda de graça no transporte público. Trens e ônibus extras os levam ao estádio.

Veja o futebol feminino como ferramenta de transformação social –e um grande negócio.

Inglaterra e Espanha investiram na base, profissionalizaram ligas domésticas. O patrocínio aumentou; o respeito, também. Mais de 91.600 pessoas viram Barcelona x Wolfsburg na Liga dos Campeões, no Camp Nou, em 2022. E 87.000 assistiram a Brasil x Inglaterra em Wembley em 2023.

Investimento doméstico gera frutos na seleção.

O que mais Inglaterra e Espanha têm em comum? Mentalidade vencedora. Nesta Euro, as inglesas, atuais campeãs, quase foram eliminadas nas quartas de final e nas semifinais. Viraram partidas, marcaram nos acréscimos. Acreditaram até o último segundo. A maioria joga no Arsenal, no Manchester City e no Chelsea.

O futebol espanhol produziu talentos como Alexia Putellas e Aitana Bonmatí, eleitas melhores do planeta. Salma Paraluello, 21 anos, é campeã mundial sub-17, sub-20 e adulta. As três do Barcelona. Uma geração que se acostumou a vencer.

Não se lembre do futebol feminino só nos grandes eventos.

Veículos de comunicação poderiam dar mais espaço em jornais, sites, TVs, mantendo uma cobertura respeitosa e técnica.

Aqui na Europa, a infraestrutura está pronta. No Brasil, um megaevento esportivo é chance de atrair investimentos, deixar legado.

Mudanças levam tempo. Faltam dois anos para o Mundial feminino. Como na criação de uma criança, o torneio terá mais chance de sucesso se o esforço for coletivo.

(*) Marina Izidro, jornalista, através da Folha de S.Paulo

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.



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