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As tarifas de 50% impostas pelo ex-presidente Donald Trump ao Brasil estão entre as mais altas já aplicadas por ele em sua política comercial. Segundo o Financial Times, no entanto, os ativos brasileiros mostram resiliência e reagem com relativa estabilidade à escalada de tensão entre os dois países.
Em um artigo dirigido a investidores, publicado na quarta-feira (6/8), o jornal observa que os motivos para a imposição das tarifas não estão ligados à política comercial brasileira — o que seria típico em disputas tarifárias —, mas sim a pressões políticas. Trump quer que as autoridades brasileiras encerrem o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentar organizar um golpe de Estado após perder as eleições de 2022.
Mesmo as acusações do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que Trump estaria tentando infringir a soberania do Brasil provocaram pequenas reações nos mercados. O real segue com valorização acumulada de quase 13% no ano frente ao dólar, e o índice Ibovespa, que inclui grandes empresas como Petrobras e Vale, mantém uma alta de 11%.
Para o Financial Times, essa reação moderada reflete a natureza relativamente fechada da economia brasileira.
Segundo o Banco Mundial, as exportações representaram menos de um quinto do PIB brasileiro em 2024, e apenas 12% delas tiveram como destino os Estados Unidos — um contraste com o México, que destina 82% de suas exportações ao mercado americano.
Mesmo em um cenário extremo, com tarifa generalizada de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os EUA, analistas da Capital Economics estimam que o impacto seria limitado, reduzindo o PIB brasileiro entre 0,3 e 0,5 ponto percentual ao longo de três anos.
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Além disso, o próprio pacote de tarifas anunciado por Trump contém exceções importantes.
Quase 700 produtos brasileiros estarão isentos, incluindo petróleo, minério de ferro, celulose, fertilizantes, gás natural, aviões e peças de aeronaves. Isso significa que cerca de metade das exportações brasileiras para os EUA não será afetada, o que, segundo o FT, deve suavizar ainda mais o impacto econômico direto das medidas.
Alguns setores, especialmente o agrícola, sentirão mais os efeitos. Produtos como suco de laranja estão incluídos nas tarifas, enquanto a maioria dos itens agrícolas não foi isentada. Ainda assim, o jornal destaca que o Brasil não depende exclusivamente do mercado americano e pode redirecionar commodities como soja, carne bovina e café para outros compradores.
O texto ressalta que países como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul vêm trabalhando para facilitar o comércio entre si justamente em reação a políticas como as de Trump.
O artigo termina com uma avaliação voltada a investidores: com o Ibovespa negociando a cerca de oito vezes os lucros futuros — abaixo da média de 10 anos, que é de dez vezes —, o momento pode representar uma oportunidade de entrada para quem busca formas de apostar na tese de que a política comercial americana, segundo o FT, seguiria o mote “Trump Always Chickens Out” (“Trump sempre amarela”). Ou seja: mesmo quando o presidente americano avança com ameaças, diz o jornal, as tarifas nem sempre se traduzem em um impacto real.