A viagem da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, conhecida como Janja, à Rússia no início de maio de 2025, seis dias antes da chegada da comitiva oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornou-se alvo de questionamentos formais no Congresso Nacional. Ao menos quatro requerimentos de informação foram apresentados por deputados da oposição na Câmara, direcionados ao ministro da Casa Civil, Rui Costa.
Janja embarcou para Moscou no dia 2, utilizando uma aeronave modelo KC-30 da Força Aérea Brasileira (FAB) – equivalente ao Airbus 330, com capacidade para 230 passageiros.
Segundo informações oficiais, a agenda da primeira-dama na Rússia incluía atividades nas áreas social, educacional e cultural, como encontros com a comunidade brasileira em Moscou e São Petersburgo, visitas a universidades e instituições culturais, além da participação em um evento sobre a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
A primeira-dama também visitou pontos turísticos como o Teatro Bolshoi, o Museu Hermitage e a Catedral do Sangue Derramado, a convite do governo russo.
Analistas apontam que estas atividades ocorrem em um momento estratégico para o Kremlin, que busca ampliar sua influência cultural em países da África e da América Latina através de ações de “soft power” – estratégia que visa angariar apoio político internacional, inclusive para a invasão da Ucrânia. Parte das instituições visitadas por Janja restringem a liberdade de expressão e punem críticos do governo russo.
Parlamantares questionam se viagem de Janja era necessária
Os parlamentares da oposição expressam preocupações de ordem institucional, diplomática e financeira com a viagem antecipada. Questionam especialmente a economicidade do deslocamento, considerando que Janja não possui cargo formal no governo.
Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo citada nos requerimentos, os gastos da primeira-dama com viagens já ultrapassaram R$ 1,2 milhão desde 2023, gerando despesas consideráveis ao Tesouro Nacional.
Deputados como Cabo Gilberto Silva (PL-PB), Evair Vieira de Melo (PP-ES), Capitão Alberto Neto (PL-AM) e Adriana Ventura (NOVO-SP) assinam os documentos, fundamentando seus pedidos no dever constitucional do Legislativo de fiscalizar os atos do Executivo. Outras questões apresentadas são:
- Justificativas para a antecipação da viagem e como isso se alinha aos princípios da administração pública
- Custo total da viagem, incluindo transporte, diárias e hospedagem
- Fonte orçamentária utilizada para cobrir as despesas
- Critérios para determinar a participação de Janja em agendas autônomas
- Medidas adotadas para assegurar transparência e fiscalização dos gastos
O requerimento da deputada Adriana Ventura cita a Orientação Normativa AGU 94/2025, que reconhece a atuação do cônjuge do presidente em missões de representação pública como função simbólica vinculada ao interesse público. No entanto, essa atuação está condicionada à observância dos princípios da Administração Pública, como legitimidade, transparência e economicidade.
Os deputados questionam se a viagem de Janja à Rússia, separada da comitiva presidencial, seguiu esses parâmetros. A oposição argumenta que a ausência de cargo público formal e a recorrência de deslocamentos onerosos ao erário exigem que o Parlamento apure a legalidade e finalidade dessas despesas, especialmente em um contexto de contenção fiscal.
Primeira-dama diz que foco da agenda era social, educacional e cultural
A assessoria da primeira-dama justificou a ida antecipada como parte da comitiva brasileira, com agenda focada em temas sociais, educacionais e culturais. Afirmou também que Janja acompanharia posteriormente a agenda oficial do presidente e a Cerimônia do Dia da Vitória, que marca a vitória do exército soviético contra a Alemanha Nazista, há 80 anos. Quanto às visitas turísticas, foram explicadas como convites do governo russo para conhecer “locais de importância histórica e cultural”.